Tão
logo a Irmã Glória seguiu para acompanhar os pacientes, o Mentor
Bartolomeu indicou que também entraríamos no Hospital.
Ao
passarmos pelo pórtico de entrada, senti uma vibração diferente.
Meus sentimentos de amor, de carinho, de fraternidade, ficaram mais
salientes. De repente sentia uma leveza no íntimo que tocou-me um
forte sentimento de gratidão. Bartolomeu, vendo o que ocorria,
explicou:
-Irmão!
Estamos entrando na área hospitalar no exato momento que a
Espiritualidade Superior oportuniza as vibrações de prece, de
saudade fraterna, de carinho, saúde e tantas outras que possam tocar
o coração daqueles que deixaram a veste terrena. Essas vibrações
são originárias daquelas pessoas, familiares e amigos, que
continuam encarnados, mas que vibram pelos seus queridos que
desencarnaram. Repare com mais atenção: existe uma musica no ar! Os
louváveis sentimentos dos terrenos chegam aqui transmutados em
sonoridade angelical, contribuindo para a recuperação daqueles que
aqui chegam para tratamento.
De
fato, passei a ouvir uma suave cantoria. Em tom quase imperceptível,
tinha a nítida certeza de que era um coral de crianças a cantar.
Entre as rimas que ora aconteciam, nomes de pessoas eram entoados
entre frases que destacavam: “a vida continua”, “te amo para
sempre”, “esteja com Deus”, “Deus ilumina”.
Enquanto
ouvia a musicalidade, nosso deslocamento do pórtico de entrada, até
o primeiro prédio, deu-se numa distância de aproximadamente
duzentos metros.
No
início, logo na entrada do pórtico, existe uma parte de uns dez
metros que é do mesmo calçamento da parte externa. Em seguida,
estendem-se gramados e jardins em uma ampla área arborizada, com
diversas banquetas e bancos de jardim espalhados e onde em algumas
haviam entidades sentadas.
O
gramado era recortado apenas pelos cinco caminhos feitos em pedras em
formato de losango, como o ponteiro de uma bússola; cada um daqueles
corredores conduzia para um grande prédio. As pedras estavam unidas
em suas extremidades, como que encaixadas a uns cinco centímetros em
suas extremidades laterais; esses encaixes se alternavam de lado ao
longo do caminho, mantendo a disposição do caminho em linha reta.
Chegamos
na frente de um dos prédios. Era todo envidraçado. Acredito que
tinha uns oito andares. Toda a parte de entrada era de um vidro em
tonalidade levemente esverdeada. Colunas redondas e marmorizadas
estavam dispostas ao longo da fachada.
Estando
na frente, onde paramos por breve instante, fiquei a observar o
movimento intenso no ambiente interno do prédio.
Ao
nos aproximarmos da entrada, a vidraça que parecia ser uma porta
automática se desfez como numa desmaterialização. E assim que
entramos, pude ver melhor o intenso movimento de entidades.
No
centro daquela área do prédio havia um jardim com uma fonte d'água.
Ali também estavam alguns bancos de jardim. Esse espaço
correspondia a uma grande área, de onde era visto todos os andares
que davam acesso aos quartos. No alto há uma gigantesca claraboia,
da mesma dimensão do jardim, onde via-se uma nuvem de luminosidade
leitosa a mover-se lentamente como uma onda.
Nos
parapeitos dos andares estavam alguns pacientes a observar o
ambiente. Num dos andares, identifiquei o Irmão Pedro, que havia
desencarnado fazia uma semana.
Bartolomeu
recomendou que fossemos conversar com o Pedro:
-Já
identificou onde está nosso Irmão Pedro? Vamos lá conversar com
ele.
Num
rápido relance, me vi imediatamente ao lado de Pedro. Ele estava com
o braço direito apoiado sobre o parapeito, olhando para baixo, e não
percebeu nossa chegada. Ele estava usando vestes de paciente e tinha
o braço esquerdo com algo que parecia uma leve varicose, sendo que
no dorso da mão esquerda havia uma atadura.
Me
dirigi a ele:
-Olá
Pedro! Como está?
Quando
nos viu, Pedro inquiriu:
-Nossa!
Você também morreu?
Bartolomeu
assumiu as explicações necessárias; sobre o que estávamos fazendo
no Hospital, entre outros esclarecimentos.
O
Irmão Pedro já contava com oitenta e três anos quando teve um AVC
e ficou em coma durante mais de quarenta dias. Seu desencarne deu-se
num sábado, quando a equipe do Dr. Frederich conduziu os últimos
desenlaces. No mesmo dia Pedro foi internado no Hospital de Cáritas
para receber o tratamento adequado. Seu comentário sobre a situação
é interessante:
-Estou
admirado com tudo isso aqui. E nem sei mais se estou morto. Lembro a
todo o momento do filme “Nosso Lar”. É tudo muito parecido. Tudo
fica muito familiar. Lembro das situações e necessidades do “André
Luiz” em querer ver e saber sobre a família na Terra. Tudo isso
estou vivenciando. Minha mãe ainda não veio me visitar. Mas já me
informaram que antes de eu ter alta ela virá. Já recebi a visita de
dois amigos e agora a de vocês. Estou aguardando meu pai. Disseram
que ele daqui a poucas horas, no vespertino, antes da nossa reunião
para oração coletiva. Confesso! Sinto que estou vivenciando o filme
“Nosso Lar”. Já disse aqui para os doutores que quero trabalhar
logo; quero trabalhar com flores. Meu quarto está cheio delas. A
todo o momento chegam elas em belos vasos; em lindos arranjos. Cuido
de cada uma delas. Já disseram que essas flores são a
materialização das preces da minha esposa. Vou cultivar essas
flores para o dia que minha querida “Mara” aqui chegar.
Ficamos
um tempo conversando com o Irmão Pedro. Bartolomeu fez diversas
explicações para auxiliar na adaptação do Irmão. Também
comentou que eu conversaria com a Mara, dentro das possibilidades,
informando sobre a situação do Irmão Pedro.
Tivemos
a oportunidade de entrar no quadro de Pedro, onde muitos vasos de
flores perfumavam o ambiente. Ali o deixamos acomodado na cama, e nos
despedimos.
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