quinta-feira, 17 de março de 2011

Trabalhando no Umbral – Parte II – Contato com a entidade trevosa

Enquanto seguíamos por trilhas desenhadas por entre lugares lúgubres. O pequeno Irmão continuava dormindo com a cabeça em meu ombro.
Bartolomeu solicitou que eu deixasse o ambiente e fosse direto para a área destinada como ponto de encontro das equipes de resgate. Entretanto, optei em seguir integrado à equipe de Atanael.
Diversos Espíritos estavam em nosso caminho. Muitos não esboçavam a mínima atenção em nossa passagem. Outros, vendo a nossa presença, corriam e se escondiam por entre rochas ou por detrás de vegetações ressequidas.
Muitas vezes cruzamos poças de lodos onde pessoas buscavam saciar a sede.
Num determinado momento, Atanael apontou para um homem que estava isolado perto de uma pequena árvore. O homem aparentava uns setenta anos. Seu rosto demonstrava muito cansaço. A impressão era de estar diante de um maltrapilho, completamente imundo. Sua voz cansada pedia ajuda. Clamava por Deus. Deitado, erguia os dois braços em direção ao Céu e pedia para Deus lhe enviar Anjos Salvadores.
Os dois trabalhadores que acompanhavam Atanael logo se aproximaram desse homem e passaram a fluidificá-lo e conversar com ele. Foi o Irmão Darci que acalmou o resgatado.
-Chegamos meu Irmão. Deus ouviu seu clamor. Estamos aqui para lhe socorrer. Vamos lhe levar para uma das moradas de nosso Pai Celestial. Pedimos-te força para nos acompanhar em nossa caminhada.
Aquele homem chorou comovidamente, segurando fortemente a mão do Irmão Darci. O homem não se continha do choro. Entre lágrimas e soluços, ele agradeceu:
-Obrigado! Obrigado! Meu Pai! Obrigado! Anjos! Por favor! Eu quero ver a Luz!
Atanael se achegou do homem, afastou a cabeleira branca que cobria um pouco o rosto e os olhos lacrimosos e disse:
-Bendito é o Filho do Pai Celestial desejoso de retornar para sua Casa. Em poucas horas estaremos chegando à sua morada. Teus familiares te aguardam. Sua chegada já é a muito esperada. Agora acalma teu coração. Você está protegido por nós. Vamos, levante e nos acompanhe.
Nesse momento Atanael, Darci e o outro trabalhador ergueram o homem. Esse era o segundo resgatado. Ainda faltavam mais sete para serem resgatados pela equipe de Atanael.
Enquanto subíamos por uma estreita trilha, o menino acordou e perguntou se estávamos saindo do “inferno”.
Aproveitei e desci o menino do colo. Disse para ele que estávamos indo para uma cidade muito bonita e segura. Entretanto, ele retornou a perguntar se não estava sendo seguido pelo “demônio”. Bartolomeu pegou na mão do menino e disse:
-Meu pequeno Irmão! Hoje mesmo você foi acolhido por nós. Estamos buscando outros para levar embora desse lugar onde o Sol dificilmente aparece. Logo vamos chegar num lugar mais iluminado, onde muitos outros estarão nos esperando. Estamos te protegendo e o grupo vai ficar muito maior. Assim, ninguém terá coragem de te incomodar.
Enquanto caminhávamos e Bartolomeu conversava com o menino, Atanael indicou para uma senhora que estava ajoelhada e rezando o Pai Nosso.
Ao longo da caminhada, o grupo foi se completando com todos os nove resgatados.
Notei que nossa caminhada foi realizada por diversas trilhas, como se estivéssemos subindo morros. À medida que subíamos, a vegetação ia ganhando novo aspecto. Vagarosamente a vegetação ressequida dava lugar para frondosa mata densa. A luminosidade também melhorava, indicando que já estava amanhecendo, e o ar ganhava o cheiro de terra molhada.
Quando atingimos o local marcado para o encontro, na Região das Sombras, encontramos duas equipes e seus resgatados.
Atanael elogiou o trabalho das equipes. Ao todo, ali estavam quarenta e dois resgatados. Nove resgatados foram trazidos pela equipe de Atanael e os outros trinta e três somavam os resgatados das outras duas equipes.
Os resgatados foram acomodados em troncos de árvores, dispostos como bancos, onde permaneciam sentados. No entorno dos resgatados, quatro trabalhadores estavam dispostos nas pontas, segurando uma fita prateada que emitia certa luminosidade.
Perguntei ao Bartolomeu do que se tratava aquela fita. Ele explicou que se destinava à proteção dos resgatados.
-Essa corda magnética visa proteger a integridade do grupo resgatado. Enquanto eles observam a luminosidade salutar que ela emite, suas mentes não se desviam em pensamentos diversos do bem.
Atanael solicitou espaço para que os resgatados que trouxemos também pudessem sentar.
O menino que viera todo o tempo segurando minha mão não queria sentar sem que eu ficasse junto dele. Atanael vendo que estava ocorrendo um momento de desequilíbrio, se aproximou do menino e lhe disse que nada iria lhe acontecer.
-Meu irmãozinho! Aqui você está seguro. Você pode ficar sentado aqui mesmo, pois nós já vamos continuar nossa caminhada. Vamos apenas descansar um pouco.
Aproveitei e também tentei acalmar a criança.
-Veja! Eu estou aqui para te ajudar. Nada pode nos incomodar aqui. Qualquer coisa é só você me chamar.
O menino acabou sentando bem na frente, na primeira fileira.
Logo em seguida chegaram as outras duas equipes trazendo, ao todo, mais vinte e oito resgatados.
Atanael me chamou para frente, uns poucos metros distante dos resgatados, e juntamente com Bartolomeu disse que a entidade trevosa já estava bem próxima e a qualquer momento avançaria em direção do grupo para tentar afugentar os resgatados e assustar a criança. Comentou para eu não me assustar, pois todos os trabalhadores estavam apostos para agir.
Nem terminamos de falar e ouvi o menino começar a chorar e gritar. Ao olhar na direção do menino, o vi passar por baixo da corda magnética e correr em minha direção reclamando:
-Vocês disseram que eu estaria seguro! Que o Demônio não me perseguiria mais! Mas ele está aqui!
A única coisa que vi diante do menino era uma nuvem negra em forma oval, de um metro e meio de altura aproximadamente.
Corri em direção do menino e o conduzi para seu lugar onde estava sentado e perguntei para ele onde estava a pessoa que lhe incomodava.
-Está atrás de ti! Atrás de ti! Ele fica lançando imagens de monstros em minha direção.
Peguei o menino pelo braço e tentei trazê-lo para perto de mim. Nesse instante o menino sofreu uma transfiguração. Sua aparência de doze anos e de cabelo preto ficou como se fosse uma criança de cinco com cabelos brancos, e em estado adormecido.
Diante do susto, soltei a criança. Ao que ela voltou a transfigurar-se e acordou em ato contínuo.
Bartolomeu intercedeu e disse que aquele efeito era decorrente da possessão da entidade.
-Charles! Esse fenômeno decorre da possessão do Irmão vingativo. Puxe a criança para perto de ti e repare na entidade que aparecerá ao teu lado.
Puxei o menino, que voltou a se transfigurar, e logo vi no meu lado direito um homem rir sarcasticamente da situação.
Com minha mão direita, peguei o homem pelo braço esquerdo e soltei o menino que foi imediatamente amparado por um dos trabalhadores.
Nesse instante, já segurando a entidade pelos dois braços, passei a empurrá-la em direção à trilha que conduzia para a Região do Exílio da Penumbra.
Atanael, Bartolomeu e Darci estavam me amparando, pois sentia os braços e as mãos deles em meus ombros.
A chegada no Exílio foi muito rápida. Parei no meio de uma clareira. A entidade então, se refez e para se soltar de mim passou a morder minha mão direita. Mas o que sentia não era uma mordida. Sentia como se ela estivesse me dando um choque, causando desconforto, mas não dor. Foi quando ouvi o Bartolomeu dizer para eu voltar. Retornei ao corpo imediatamente. Eram 7h10min de domingo.

2 comentários:

  1. Não sabia que ainda encarnado poderia fazer parte do time que desempenha tão nobre tarefa, vou orar para que Deus me conceda a chance de iniciar meus trabalhos de resgatador desde já. Acredito que é uma excelente forma de praticar a caridade.

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