terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Irmão Arrependido

Foi em dezembro de 2001 que tive acesso aos conhecimentos dos abnegados irmãos da espiritualidade maior. Até aquela data, minha vida estava dividida em duas situações bem distintas. Uma era a necessidade de fazer transformações fluídicas relacionadas à matéria. Buscava com isso satisfazer meus desejos carnais. Tentava desenvolver líquidos etílicos, capazes de me embriagar. Outra necessidade se referia ao desejo, quase que cego, de violentar pessoas que eu odiava quando encarnado. Emitia todo meu pensamento de ódio e raiva contra a pessoa, a ponto de promover severas perturbações em seu campo de trabalho e familiar. Tinha, diante disso, o prazer de ver aquelas pessoas sofrerem a minha influência, sem perceberem a minha presença.
Em dezembro de 2001, um desses que eu influenciava severamente, procurou uma Casa do Espiritismo. Cheguei com ele junto à porta do Centro. Tentei retirar de sua consciência a vontade de entrar na Casa. Fiz de tudo. Falei de tudo para demover a ideia de entrar naquela Casa. Mas meu esforço foi em vão. Ao chegarmos à porta, desejei abandoná-lo ali mesmo, seguir o meu caminho e deixar aquela criatura seguir o caminho dela. Mas foi aí que apareceram duas senhoras. Elas vinham na direção da Casa do Espiritismo e me abordaram a poucos metros da entrada. Uma delas chegou bem perto de mim e disse que ali dentro eu poderia desabafar sobre meu sofrimento e minhas angústias. Inclusive eu poderia aprender sobre outras formas de manipular os fluidos.
De imediato duvidei das duas senhoras. Tive como primeira impressão a ideia de estarem me iludindo com aquelas propostas de manipulação dos fluidos e de desabafar minhas angustias.
Disse para elas que estava bem e que ainda tinha algumas dividas para cobrar de outras pessoas.
Daí uma delas disse que minha mãe havia estado naquela Casa do Espiritismo e deixou uma carta para ser entregue a mim mesmo, e que essa carta mudaria minha vida e eu entenderia o porquê das minhas angustias e raivas.
Passei então a fazer perguntas que viessem a confirmar a verdade sobre minha mãe. Perguntei sobre a idade em que minha mãe havia desencarnado. Responderam certo; foi com 82 anos. Perguntei então sobre o ano de seu desencarne. Também responderam certo; foi em agosto de 1993.
Aí fiquei desarmado. Perguntei então se haviam conhecido minha mãe. Uma delas disse que conhecia muito minha mãe e sabia de todas as dificuldades que ela teve em cuidar dos filhos. Que ela trabalhava como costureira para tirar o sustento diário.
Diante de tantas afirmativas que me faziam recordar os momentos de alegria e sofrimento que tive com minha mãe, e que sua morte havia me deixado completamente transtornado, disse para aquelas senhoras que até entraria na Casa. Mas se não gostasse do visual, sairia imediatamente.
As duas senhoras ficaram ao meu lado e me conduziram para dentro da Casa. Já adentrando, passamos por um corredor e entramos num auditório. Nas diversas cadeiras estavam muitas pessoas, inclusive aquela que eu perturbava insistentemente. Ele estava de cabeça baixa, com as duas mãos tapando o rosto. Vendo aquilo, confesso que fiquei um pouco constrangido. Sim, pois aquele indivíduo sempre pareceu muito forte e decidido. E agora, ali, estava completamente fragilizado.
As duas senhoras me apontaram uma porta que ficava no fundo do auditório, quase junto de uma mesa com cadeiras. Disseram que lá dentro estava a carta de minha mãe. A curiosidade de saber o que minha querida mãe havia deixado escrito mexia com meus sentimentos mais nobres. Eu, a cada passo, parecia me tornar uma criança ansiosa, como nos tempos de infância quando aguardamos pelo presente do Papai Noel.
Entramos porta adentro. Ali havia outras pessoas. Algumas estavam de pé, falando com outras que estavam sentadas. Essas eram pessoas encarnadas. Havia ainda um grupo de entidades que estavam numa sala ao lado, todas elas com aspecto repugnante. Mas foi para junto daquelas entidades repugnantes que aquelas duas senhoras me levaram. Disseram para eu aguardar dois minutinhos ali, pois iriam pegar a carta.
De fato, foram bem rápidas. As duas senhoras me chamaram para a sala onde estavam as pessoas encarnadas e pediram para eu sentar na cadeira. Ali, uma delas, segurando um papel dobrado na mão, me olhou profundamente e disse para eu ler com o coração a carta que minha mãe deixara. Enquanto eu pegava a carta para ler, um homem encarnado, que estava de pé, disse para outro que se dirigia até a porta, para esperar um pouquinho antes de encaminhar o próximo irmão.
Não dei muita atenção e abri a carta. Vi que a caligrafia era dela; de minha mãe. Na carta ela me chamava pelo apelido carinhoso. Passei a sentir uma profunda vergonha do que havia feito. Ela dizia para eu ter misericórdia das pessoas que caçoaram de mim e que me prejudicaram profundamente. Disse que encaminhou a carta por duas amigas sinceras, comprometidas em me encontrar. Que sua ausência se justificava, pois estava muito atarefada em organizar a casa para me receber. Senti minha boca ficar seca. Estava eu recebendo informações da pessoa que mais admirei em minha vida.
Nem cheguei terminar de ler e vi entrar pela porta aquele indivíduo que tanto odiava. Ele sentou numa cadeira que estava quase junto de mim. Segurando a carta, fiquei olhando para ele, a fim de ver o que ele estava fazendo ali. Mas o homem de pé, se posicionou quase na minha frente e pediu para eu falar.
Ora essa, naquele momento pensei se tratar de mais uma chacota para cima de mim. Daí as duas senhoras disseram para eu ficar ao lado de uma mulher que estava na minha esquerda. Sentei bem perto da mulher encarnada, que começou a se contorcer na cadeira. Uma das senhoras pediu para eu contar qual o meu sentimento com relação aquele homem que estava ali, aquele que eu tinha prejudicado e perturbado longamente.
Minha cabeça estava ainda confusa com toda aquela situação. A carta de minha mãe, pedindo para eu amar os que me prejudicara e trabalhar sempre pelo amor ao próximo, doando meus esforços ao bem, e aquele pobre coitado parecendo um trapo velho, ali, sentado e sempre de cabeça baixa.
Quando passei a falar, percebi que aquela mulher encarnada ao meu lado falava juntamente comigo, como se fosse um eco. Senti alguém colocar algo sobre mim, que parecia um cobertor térmico, pois me aqueceu e parei de sentir frio. Isso me trouxe um conforto que já não sentia há muito tempo. Depois, passei a falar como nunca havia falado antes. Contei toda minha raiva sobre aquele homem que estava ali, sentado. Mas o outro que pediu para eu falar começou a dizer que era chegado o momento de paz e de perdão. Disse para eu seguir as duas irmãs que estavam comigo, pois elas me levariam para uma região de conforto e de encontro com minha mãe. Fiquei espantado com as palavras daquele homem. Depois, bem atrás dele, junto da parede, uma luz parecia abrir uma porta. Foi quando me prostrei. Comecei a chorar como uma criança, falando da saudade de minha mãe e pedi desculpas por todo o sofrimento que causei. Não sei ainda explicar o que estava acontecendo comigo. Mas a verdade é que ao contar sobre minha raiva, desabafei toda uma angustia que me corroia por dentro.
Aquele ambiente confortável, juntamente com aquele homem que falava comigo, me dando estímulo e esperança, coisa que nunca tive depois que minha mãe se foi, me encheram de conforto. O calor que senti depois de tantos anos passando frio desconcertante, também me refez a consciência.
Mas aí fiquei sabendo de algo muito doloroso. Senti uma forte dor no fígado. Ao mesmo tempo em que gemi de dor, a mulher ao meu lado também reproduziu minha dor. Tentei gritar de dor, mas algo me impedia e o gemido mudo era tudo o que eu conseguia. Olhei para meu corpo e vi uma enorme ferida, um buraco. O meu fígado estava completamente destruído e com uma cor horrível. Uma das senhoras, vendo eu me contorcer de dor, colocou sua mão sobre meu ferimento, o que aliviou meu sofrimento. Já o homem de pé, disse para eu, a partir daquele momento, seguir o caminho do amor e largar o álcool. Que eu reparasse a forma prejudicial da ação do álcool sobre meu corpo. Aí ele passou a falar o que considerei as palavras mais importantes para mim. Ele disse:
-Meu irmão! Hoje você traz alegria para sua mãe que lhe aguarda a muito. Chegou seu momento de esclarecimento e essas duas irmãs concretizaram o seu resgate. Elas são irmãs de muita luz e vieram em nome de sua amada mãe. Segue agora com elas, pois seu leito hospitalar está pronto para curar essa chaga do álcool. Em breve irmão, desejamos contar com seus préstimos nessa Casa. Agora, sobre o perdão sincero, fechando esse ciclo de ódio e de perseguição, acompanha essas duas irmãs às regiões de luz. Que Jesus Cristo lhe acompanhe todos os momentos de sua vida na eternidade. Vá em paz.
As duas senhoras me ampararam no momento que tentei ficar em pé. Senti-me muito fragilizado naquele momento. Um pouco adormecido também.
Enquanto eu era levado para aquela porta de luz, pude ver o homem que tanto prejudiquei falar para Deus me iluminar. Eu não tinha mais forças para falar ou responder. O homem de pé disse para ele que a obsessão havia terminado.
Quando atravessamos a porta de luz, eu desmaiei. Acordei dois meses depois, numa cama de hospital, onde passei a receber tratamento para recuperar meu fígado. Perguntei, ainda sentindo os olhos pesados, sobre minha mãe para a primeira enfermeira que se aproximou de mim. Sem conseguir me movimentar muito, parecendo que estava colado na cama e sentindo muitas dores, a enfermeira me acalmou e disse que minha mãe estava vindo. Foi o suficiente para eu cair novamente no sono.
Quinze dias depois, acordei e já me sentia melhor. Naquele dia fui informado que minha mãe vinha me visitar no final da tarde. Fiquei muito ansioso pelo reencontro.
No final da tarde, sentei na cama para aguardar minha mãe. Meu ferimento já estava quase completamente curado. Na área externa, onde se localiza o fígado, agora havia apenas um vermelhão.
Enquanto eu, sentado na cama, olhava a beleza do entardecer, vi a porta do quarto se abrir. Era minha mãe a entrar. Não consegui mais me conter e quase caindo da cama. Fui amparado nos braços dela em minha completa exaustão de forças e num copioso choro que me lavava o rosto completamente.
Minha mãe chorava junto comigo. Mas só em poder estar junto da pessoa que mais me amou na vida, me enchia o coração de uma alegria que me descontrolava os sentidos.
Minha querida mãe disse que havia trabalhado incansavelmente pelo meu resgate. Que conseguira, com sua dedicação, um excelente local para eu trabalhar e recuperar minha vida de desventuras. Depois desse encontro, recebi alta e fui morar com minha mãe.
Atualmente trabalho na mesma Casa do Espiritismo que me acolheu. Sou auxiliar das equipes médicas e minha função é de elaborar os compostos fluídicos nos processos cirúrgicos.
André
Mensagem recebida em 21 de fevereiro de 2011.

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