quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Comunidade no Umbral – Explicações – Parte I

Numa certa noite, em desdobramento consciente, o mentor Bartolomeu levou-me até uma rua de Porto Alegre. Essa rua era em decida. Não existia calçamento algum e nem vegetação em toda a sua extensão. A impressão que tive era a de estarmos descendo uma avenida em declive, abaixo da superfície, pois como numa miragem, imagens sobrepostas se destacavam nesse momento. Acima, uma determinada avenida de Porto Alegre mantinha sua forma plana, com a iluminação dos postes da via pública e o pavimento asfáltico. Abaixo dessa, a entrada se destacava como se fosse o túnel da Conceição – apenas como exemplo –, devido sua altura e largura, mas sem a iluminação adequada, apenas uma diminuta luminosidade, como que perdida ao longe, facilitava a visualização desse caminho de chão batido.
Logo na entrada, em penumbra a penumbra, iniciava também um muro de uns cinto metros de altura que se estendia por toda a extensão do caminho a abaixo, à nossa direita. Esse muro, que parecia coberto de barro, tinha sua estrutura inicial também confundida com as da avenida de Porto Alegre.
Bartolomeu explicou a situação:
-Charles, hoje você irá conhecer uma comunidade de irmãos ainda imantados à matéria, que está numa das fases do Umbral. Preste atenção. Essas entidades coabitam um espaço como se estivessem em uma cidade e formam algo semelhante aos condomínios fechados. Na verdade, elas já possuem um senso de orientação que lhes estimula, mesmo nessas regiões trevosas, à convivência coletiva. Apesar de acreditarem em Deus e nos espíritos superiores, elas ainda estão em estágio evolutivo diferenciado pelo fato de venerarem alguns de seus líderes, que se destacam pela arraigada vaidade presa a ilusão de sacrifício pessoal ou de animais, e de oferecerem oferendas ou receberem “agrados”, como eles preferem classificar. Observe que um fato os distingue dos demais irmãos e irmãs que vagam pelo Umbral. Nessa comunidade que tu vais visitar, os irmãos têm um apurado senso de autoproteção do grupo e de defesa da área como se defendessem uma propriedade pessoal. Entre eles e para com os seus interlocutores encarnados, existem pactos de lealdade e auxílio mutuo. Para conseguirem o que consideram necessários, são solidários entre si, inclusive na pratica de ações que propiciem mal-estar ou mesmo o desencarne daqueles que forem por eles considerados prejudiciais aos seus intentos na superfície. Os líderes, mais comumente conhecidos como Exús ou Magos Negros, conforme a posição que ocupam numa determinada hierarquia dessa organização, são extremamente inteligentes e formam suas próprias comunidades no Umbral, estruturadas em redes de comando e atividades. Entre eles são formados conselhos que se reúnem para deliberar sobre as situações que lhes afetam ou afetam seus porta-vozes encarnados ou mesmo aos encarnados que a eles se socorrem oferecendo agrados, no desejo de afastar de seus caminhos os seus desafetos ou no desejo de conquistar vitórias políticas, dinheiro ou supostos amores.
Diante das colocações, não pude deixar de expor minha preocupação.
-Mas não será perigoso nós entrarmos nessa comunidade? Esses líderes permitiriam a minha entrada, vendo minha condição de encarnado? Eu não serei como um intruso?
-Charles, a situação sua tem algumas peculiaridades que se assemelham a muitos casos de irmãos encarnados que visitam essas comunidades. Não são poucos os irmãos que em estado de sono, são levados ou mesmo atraídos para essas regiões. O fato de ser praticamente um lugar comum, onde muitos encarnados visitam quase que rotineiramente quando em estado de sono, devido suas condições de pensamentos que os imantam a desejos menos elevados, propicia uma normalidade para eles. Mas no seu caso, nós temos hoje uma irmã conhecida que trabalha nessa comunidade e lhe conduzirá como sendo um aluno dela. Essa irmã não tem relação vibracional com o Umbral e nem com a comunidade. Ela desempenha uma atividade de elevado significado. Por estar na condição de encarnada, ela consegue desempenhar melhor a atividade de professora orientadora para diversos irmãos necessitados. Esse trabalho de orientação é melhor executado durante a noite, pois nesse período os líderes e seus seguidores mais próximos se deslocam para a superfície onde se encontram com seus servidores encarnados para praticarem diversos rituais de sacrifício e outra atividades maléficas. Sempre ao entardecer, irmãos mais esclarecidos com relação aos moradores dessas comunidades, que trabalham para espíritos de luz e controlam essas regiões, fazem soar um sinal indicando que essas entidades podem ir desempenhar seus trabalhos. Nesse momento o portão dessas comunidades é aberto por outro irmão também mais esclarecido, permitindo a passagem dessas entidades, que sobem em diversos grupos para a superfície. Dessa forma, ficam nas comunidades irmãos mais receptivos para os ensinamentos evolutivos. Já quando está amanhecendo, o mesmo sinal é tocado e essas entidades sabem que devem retornar, sob pena de perderem suas regalias e liderança. Como são extremamente vaidosas, elas retornam para exibirem os ganhos que obtiveram ao perpetrarem o mal contra irmãos que perturbavam seus afins e mostrar os agrados que seus seguidores e auxiliares mais próximos obtiveram com os sacrifícios em rituais de sangue. Muitos chegam como embriagados, com suas vestes ensopada pelo álcool, fumo e fluido animal.
Nesse momento vi uma pessoa subindo. Era a irmã Rita, uma antiga conhecida. Trazia alguns livros nos braços. Ela se aproximou, como sempre, com o sorriso aberto.
-Olá irmãos! Estava aguardando vocês lá na entrada. Diante da demora, resolvi subir para ver se estavam chegando.
Bartolomeu cumprimentou a irmã Rita e explicou que a demora decorreu do ensinamento que estava me oportunizando sobre o local.
Eu não pude ficar mais surpreso com a situação.
-Olá Rita! Não sabia que você dava aula nesse local. Sempre pensei que era em lugares mais iluminados.
-Charles, que Deus nos acompanhe hoje. O trabalho que desempenho na área do ensino é desenvolvido também em locais diferentes e superiores ao Umbral. Mas aqui existem crianças que necessitam de tanto ou mais afeto que nos planos superiores. Essa atividade respeita um revezamento entre diversas outras irmãs encarnadas, que descem aqui para instruir e orientar espíritos que desencarnaram em condições trágicas quando estavam encarnadas no estágio de crianças ou adolescentes. São entidades que trazem muito ódio e desejo de vingança, afeitas a ilusão de ações heroicas. Além dos irmãos do Brasil, não raro, vem crianças e adolescentes da África, Oriente Médio e Ásia, que foram instruídas como soldados nas guerras locais, e que ao desencarnarem em conflitos de sangue com pouca idade, como nove, doze e até dezessete anos, receberam a dádiva de reencarnarem no Brasil em lares abertos pela orientação cristã. Mas vamos andando, assim ganhamos tempo.
Bartolomeu agradeceu as explicações da irmã Rita e considerou sobre a atenção que o Alto dá para essas regiões.
-Apesar de não parecer, o Alto exerce muito trabalho de resgate no Umbral. Nenhum irmão está desassistido ou desamparado. Existe uma atividade intensa e invisível em busca permanente do resgate e da evolução desses irmãos. Mas por hora, quero que você Charles fique tranquilo, pois como vamos penetrar em região mais densa, eu me tornarei invisível aos olhos de vocês. Porém, você poderá me ouvir.
Dito isso, notei que o Bartolomeu de fato ficou invisível.

Um comentário:

  1. Sabe, eu algumas de minhas experiencias, eu tbm já me vi em ruas parecidas como voce descreveno inicio do texto.

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