Anastácio desligou a luz de localização e elevou a nave para cima da muralha. Acho que estávamos sobrevoando a uma altura algo em torno de duzentos metros.
O muro, que cerca a cidade, estabelece uma enorme circunferência. Sobre ele há vegetação e um corredor. Enquanto a nave ia lentamente desenvolvendo uma trajetória diagonal, observei que as avenidas iniciavam junto ao muro e continuavam paralelas em direção ao horizonte, certamente em direção ao centro da cidade. Essas avenidas retas, do muro ao centro, eram cruzadas por outras avenidas formando o que conhecemos como anéis viários, e estabeleciam círculos concêntricos. As avenidas retas parecem formar pontas de uma gigantesca estrela desenhada no solo da cidade. Aos meus olhos, aquelas avenidas pareciam formar desenhos longitudinais de raios do sol. Como se o mapa da cidade fosse os traços de um sol, como aqueles desenhado pelas crianças; como se representassem duas rosas-dos-ventos, uma sobreposta à outra, cortadas por outras ruas que formavam os círculos.
A luminosidade da cidade era muito semelhante aquelas noites natalinas, quando ruas e casas são enfeitadas com luzes coloridas. As flores, perfazendo os canteiros em extensas avenidas, pareciam refletir as luzes como vaga-lumes. As árvores também tinham uma beleza peculiar. E, apesar de ser noite, havia muitas pessoas pelas calçadas e jardins.
Enquanto reparava um conjunto de prédios bem iluminados, abaixo de nós, Bartolomeu passou a tecer algumas explicações.
-Charles, repare a grandiosidade dessa cidade, que ficou conhecida na Terra como Nosso Lar. Veja a comunhão de amor que ela consolidou. A cidade surgiu em 1530, quando irmãos europeus chegaram aqui. Antes essa região era uma aldeia dos irmãos que na Terra formaram a tribo dos Tamoios. Os irmãos europeus e os irmãos Tamoios iniciaram juntos os primeiros fundamentos da nova cidade que se dedicaria aos trabalhos de resgate dos irmãos que em solo brasileiro desencarnariam como resultado dos conflitos entre europeus e ameríndios. Lembre que a chegada do europeu, com seu interesse em explorar as riquezas da mata, nunca foi de todo pacífica. Desde 1501 a madeira era levada para a Europa. Mas é a partir da década de 30 que os conflitos pela posse da terra ganharam o aprofundamento da violência desmedida. Almas caridosas iniciaram um trabalho de intensa oração aos irmãos desencarnados que necessitavam de amparo e socorro. A comunhão entre os abnegados irmãos fez europeus e ameríndios trabalharem arduamente nas regiões do Umbral pela pacificação dos corações empedernidos nos conflitos que vieram a dizimar as nações dos ameríndios em solo brasileiro. Apesar da pouca compreensão dos ameríndios encarnados, alguns pajés já vislumbravam a chegada de europeus que auxiliariam na preservação das tribos. As orações, desta cidade ainda em processo de construção, ecoaram na Terra e atingiram alguns segmentos religiosos da Igreja Católica, dando nascimento a Ordem dos Jesuítas em 1534. Em 1549 esses soldados de cristo chegam ao Brasil para iniciar suas atividades. Apesar de algumas insanidades, os jesuítas consolidaram grandes povoados com os ameríndios, indicando-lhes a integração numa dimensão cultura que para eles ainda era desconhecida. Logo chegaram os povos africanos para o difícil resgate cármico pelo caminho da escravidão. Esses irmãos oriundos da África também receberam atenção especial dessa cidade. Durante essa faze de dor e sofrimento, muita oração foi realizada pelos irmãos de Nosso Lar, para que os irmãos encarnados suportassem o penoso martírio da escravidão.
No suave deslizar da nave, perguntei se o centro da cidade era longe e se poderia conhecê-la. Bartolomeu ponderou com Anastácio:
-Irmão Anastácio, deixe a região hospitalar e vamos ao centro. Vamos mostrar ao nosso irmão Charles a união desta cidade com Deus.
De imediato a nave se deslocou em altíssima velocidade. Não seu o quanto que ficou para trás. Entretanto, quando a nave parou, vi à frente uma grandiosa arquitetura que parecia um misto de prédio e de catedral, muito iluminado em toda a sua volta. De sua parte superior saiam fachos de luz em direção ao alto.
Bartolomeu agradeceu ao Anastácio e passou a me explicar.
-Estamos no centro da cidade. Aqui temos o prédio de onde partem todas as deliberações com relação à cidade, aos seus moradores e aos trabalhos de reencarne e de resgate. Essa luz de seu topo corresponde às bênçãos derramadas pelo Altíssimo.
A minha visão de sol como uma referência para entender o plano físico da cidade ficou mais destacada. Aquela praça central dava a noção de ser como o circulo solar e as avenidas os seus raios. O prédio central, semelhante a uma catedral, parecia estabelecer um eixo luminoso com o Céu.
Um pouco mais abaixo de onde estávamos parados, pude ver outra nave, toda metálica, com o tamanho aproximado de um ônibus sanfonado. Ela se suspendeu no ar e tomar uma direção contrária a utilizada pela nossa chegada. Duas pessoas, lá embaixo, bem na frente de uma entrada desse prédio, nos viram e estenderam o braço como se estivessem nos cumprimentando. Retribuí o aceno, enquanto Bartolomeu comentou sobre o fato.
-Aqueles irmãos sabem da nossa presença, o que viemos fazer aqui e quem somos. São orientadores do mais alto padrão vibracional e estão ali para presenciar sua visita. Foram eles que autorizaram sua chegada.
Perguntem sobre quem seriam eles.
-Não é prudente lhe indicar nomes ou referências mais apuradas sobre aqueles irmãos. Com o tempo as oportunidades poderão acontecer e você terá condições para compreender melhor a situação e sua relevância. Por enquanto, sabemos que teus sentidos, Charles, estão mais direcionados para a curiosidade. E essa situação não contribuiria para os trabalhos de nossos irmãos. Mas conforme seu desprendimento for acontecendo e sua dedicação em escrever sobre suas vivências espirituais forem ganhando forma, estes e muitos outros irmãos da espiritualidade maior que já lhe observam de outras cidades, organizarão encontros onde poderás conhecer nossos irmãos maiores e receber informações preciosas para o esclarecimento de nossos irmãos encarnados.
Diante da movimentação de outras entidades ao longo da enorme praça que circundava aquela catedral, perguntei para Bartolomeu se a cidade não descansava à noite. Ele disse que sim, mas não como na Terra.
-A espiritualidade tem diferenças acentuadas com relação à zona densa da matéria corporificada, onde se processam as atividades dos encarnados. O cansaço físico, resultado da jornada de trabalho na Terra, exige um repouso mínimo para serem repostas as energias e restabelecida a condição física. Na espiritualidade o repouso não necessita de tanto tempo. Mas os irmãos aproveitam essas horas para desenvolverem seus estudos e aprimoramentos. Na espiritualidade também se estuda muito e se busca a evolução.
-Bartolomeu, é possível descer para conhecer a praça e este prédio?
-Charles, no momento tem outro compromisso nos aguardando e necessitamos seguir. Para sua melhor compreensão do plano espiritual, recebemos permissão para conhecermos o plano espiritual em zona imediatamente superior ao da cidade Nosso Lar. Esta nave tem a tecnologia necessária para nos transportar em diversas zonas espirituais. Logicamente que ela também tem suas limitações, como é o caso de adentrarmos nas regiões espirituais mais elevadas, cuja nossa tecnologia ainda não atingiu tal condição. De qualquer sorte, os potenciais espirituais a que estamos sendo levados pela permissão de Deus, que você verá e escreverá, correspondem aos próprios conhecimentos a que os encarnados estão condicionados a receber. Os teus relatos sobre estas e outras cidades, apontarão a magnitude dos mundos que se interpenetram e estimularão pensamentos e estudos que se dedicarão em conhecer esses universos que se encontram em linhas de tempo, frequência e densidade material diferente.
Imediatamente Bartolomeu solicitou para Anastácio se estávamos no tempo para subirmos até a cidade Luz Divina. Diante da afirmativa, Bartolomeu dirigiu a palavra para mim.
-Preste atenção no que vai acontecer agora.
Reparei que a nave parecia ter se tornando translúcida. Onde era vidro, parecia não ter mais nada. Já no restante da nave, tudo parecia ter ficado como uma vibração de ar quente, semelhante ao que vemos, à distância, no reflexo do asfalto quente. Dessa mesma forma estávamos nós.
Levei a mão até o vidro. Quando o toquei, Bartolomeu explicou a situação.
-A nave assumiu uma condição de termoeletricidade que nos conduziu para outra dimensão do espaço-tempo, numa condição material mais sutil. Para a população da cidade Nosso Lar, ficamos invisíveis; ou desaparecemos. Somente os irmãos mais evoluídos, com a vidência desenvolvida, podem nos ver. A situação é semelhante à mediunidade dos videntes encarnados. Agora repare o nosso novo destino. Irmão Anastácio, pode subir.
Observei a cidade Nosso Lar ficar cada vez mais longe, lá em baixo. De repente, também abaixo, mas a distâncias diferentes, vi ao longe, diversas outras formações de cidades semelhantes ao Nosso Lar. Elas estavam em todas as direções. Não consegui contar, mas eram mais de vinte, com certeza.
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