Na madrugada de terça-feira, 15 de fevereiro de 2011, fui levado para um encontro de introdução aos estudos do Espiritismo. O encontro estava ocorrendo em uma das salas da Escola da Espiritualidade, na cidade de Porto Alegre. Na sala estavam cinco espíritos em estado de desdobramento e outros dois espíritos. Perguntei ao mentor Bartolomeu o motivo de ter me levado para um estudo introdutório da Doutrina Espírita.
-Charles, sempre tem algo novo para aprendermos. Mesmo aqueles que já leram todas as obras de Allan Kardec, que já possuem profundo conhecimento do pentateuco do codificador, o estudo não pode parar. Revisar as bases da Doutrina contribui para abrir novos horizontes e ampliar o entendimento. Aqui estão cinco irmãos encarnados que iniciaram os estudos introdutórios da Doutrina Espírita. Hoje o Irmão Arnaldo complementará os estudos que esses irmãos encarnados tiveram na Casa Espírita terrena. Está em pauta o tríplice aspecto do Espiritismo: Religião, Filosofia e Ciência. O Irmão Arnaldo é conhecido pelos belos exemplos comparativos que utiliza como metodologia para fixação do conhecimento.
Entramos na sala enquanto a palestra transcorria e nos sentamos ao fundo, sem perturbar o andamento da explanação do Irmão Arnaldo. Apenas a outra entidade que estava ao lado de Arnaldo nos assentiu com a cabeça. Explanava o painelista:
-O Espiritismo estabeleceu o processo evolutivo do Espírito na encarnação terrena ao congregar doutrinariamente a Religião, a Filosofia e a Ciência. Durante centenas de anos a Religião na Terra era condicionada apenas no acreditar sem raciocinar sobre Deus. Para se ter uma compreensão de tal realidade, basta recordar que a Filosofia surge na Grécia Antiga separada da Religião, quando os pensadores da época remota estabeleceram a Razão como guia explicativo da natureza e questionaram os atributos e as explicações dadas pela Religião. A Filosofia, ao estabelecer a proposta da dialética, ou seja, das contraposições de ideias, fez nascer, centenas de anos depois, a Ciência, que por sua vez distanciou-se da Religião ao propor a comprovação da experiência. Allan Kardec, em meados do século XIX, ao receber diversos cadernos contendo perguntas com respostas de origem espiritual, se dispôs ao trabalho de codificar as informações, não sem antes pesquisar sobre a veracidade das mesmas. Estava nascendo a unificação da Religião, Filosofia e Ciência. Kardec não se entregou cegamente ao trabalho de dar ordem às perguntas e respostas. Sua determinação foi de buscar os princípios norteadores que estavam presentes naqueles fenômenos envolvendo a comunicação com os Espíritos. Portanto, o mestre da codificação foi além da pura reflexão religiosa, ele somou ao seu trabalho o pensamento filosófico, argumentando, por meio da razão, os atributos presentes nas comunicações que, ao testá-la por diferentes maneiras, somou na sua metodologia de argumentação, reflexão e análise, os princípios científicos visando à comprovação dos fatos. Sendo assim, Kardec soube conduzir o maior avanço de todos os tempos da humanidade. Ele integrou Religião, Filosofia e Ciência, proporcionando ao Espírito encarnado seguir esse mesmo caminho para a evolução. Pode-se dizer que o Espiritismo encarnou o tríplice aspecto ao ponderar que: Pelo aspecto religioso, não basta apenas conhecer a palavra de Deus, devemos praticá-la. Pelo aspecto filosófico, não basta conhecer e praticar a palavra de Deus, tem que raciocinar em busca da evolução. E pelo aspecto científico, para evoluirmos até Deus, temos que conhecer, praticar, raciocinar, ver e sentir, por todas as nossas potências, a obra de Deus. Dou para vocês um exemplo desse processo envolvendo o tríplice aspecto. Vocês todos assistiram o filme Matrix.
Quando o Irmão Arnaldo falou sobre o filme, uma grande tela se fez visível, onde apareceram cenas do filme Matrix. Ele foi explanando e as cenas iam surgindo conforme seus apontamentos.
-Nesse filme, o personagem Neo aparece em meio da Informática. Digamos que tudo correspondente ao universo da Informática, nesse filme, esteja representando uma Religião. Mais. Digamos que a Informática no caso do filme em tela seja a Religião. Nesse caso Neo surge como um exímio conhecedor dessa Religião, mas ele não ia além disso. Neo desconhecia qualquer outro tipo de pensamento sobre essa Religião. Para mudar sua maneira de seguir cegamente aquela Religião, surgiu um chamado na tela de seu computador, dizendo para ele seguir o coelho branco. Neo estava sendo chamado para a racionalidade, para a Filosofia. Vejam nesse quadro que ele ao atender a porta, se desloca e pega um livro. Vejam o título: “Simulacros e Simulação”. Trata-se de um livro escrito por um filósofo. Esse livro questiona a sociedade ao afirmar sobre um mundo real desvinculado de origem e de realidade. Vejam que ele tira do interior desse livro o disket que é entregue aos que bateram à sua porta. Esse é o referencial para que Neo passe a filosofar sobre a Religião. (O Irmão Arnaldo para a cena e aponta para a tatuagem de um coelho branco em outra personagem do filme) Se antes ele conhecia e praticava a Religião da Informática, agora ele desejará raciocinar sobre ela. Nesse momento ele acompanha o grupo que lhe bateu a porta, no intuito de entender o que foi aquele chamado que utilizou o símbolo do coelho branco. Neo demonstra o desejo de conhecer sobre sua Religião, a Informática. A sucessão da trama cinematográfica leva Neo diante de Morfeu, que para a mitologia grega era o deus do sonho. Vejam agora, Morfeu oferece, nessa simbologia das pílulas azul e vermelha, a chance de Neo despertar para a realidade, num caminho sem volta. Agora vejam, Neo aceita conhecer a realidade. As cenas agora sugerem o nascimento de Neo. O movimento no meio aquoso, a busca pelo oxigênio e a libertação das amarras que lhe sustentavam, até sua expulsão, Neo passa a sentir e ver outra realidade. Ao longo da trama, Neo assumiu então a condição de raciocinar sobre a realidade. O personagem continua preso à Informática, porém, agora, além do aspecto religioso, ele assume o aspecto filosófico. No filme, Morfeu sempre falou e acreditou que Neo seria o escolhido para ir além; evoluir. Já nesse quadro Neo é alvejado e morre. Mas sua consciência se restabelece e ele renasce. Reparem que Neo passa a ver tudo ao seu redor de outra forma. Ele enxerga todos os códigos da Informática como condição primeira que dá cor, volume e forma a toda a obra Matrix. Nesse momento ele assume a condição de Ciência, pois suas ações passam a agir na própria obra, visto que agora ele atingiu um estágio de conhecimento mais avançado. Ou seja, Neo passou a conhecer, praticar, raciocinar, ver e sentir por todas as suas potências a obra Matrix. Sua busca, a partir de então, será em conhecer o Programador; uma analogia a Deus. Meus Irmãos, feito esse exemplo comparativo, lhes desejo uma jornada evolutiva sob o amparo do Pai Celestial e dos Irmãos Maiores. Procurem conhecer com profundidade a Doutrina Espírita e pratiquem seu tríplice aspecto a todo o momento. Desenvolvam vossas mediunidades e se dediquem em contribuir para a obra de nosso Pai. Vão em Paz.
Ao terminar de falar, as duas entidades desapareceram da sala. As outras foram conduzidas por seus mentores e mentoras.
Enquanto eu e Bartolomeu saíamos da sala, perguntei-lhe sobre o exemplo comparativo estabelecido pelo Irmão Arnaldo:
-Quer dizer então que os médiuns enxergam diferente dos outros?
-Nosso Irmão Arnaldo colocou sobre o tríplice aspecto que envolve a evolução do Espírito. Sua argumentação embala a necessidade de conhecer, agir, raciocinar e interagir com a obra de nosso Pai Celestial. A mediunidade, nesse aspecto, é apenas uma das partes da argumentação exposta pelo Irmão Arnaldo e necessariamente não se caracteriza em efeito condicionante. Para evoluir, o Espírito, em sua individualidade e integralidade, deve desenvolver os três aspectos: o Religioso, o Filosófico e o Científico. Pense como exemplo o nosso Irmão Chico Xavier. Ele desenvolveu a Religião, levando a palavra de Cristo aos necessitados. Desenvolveu a Filosofia, ao avançar os conhecimentos do Espiritismo. E desenvolveu a Ciência, na qual, com sua mediunidade e por incontestáveis metodologias, provou e comprovou a vida eterna, a comunicação entre encarnados e desencarnados e, principalmente, o amor incondicional de nosso Pai Celestial.
-Gostei dessa aula. Se possível, gostaria de participar de outras oportunidades onde o Irmão Arnaldo seja o palestrante.
-Em breve vamos ter nova oportunidade. Agora deves retornar.
Eram 5h55min. Quando retornei.