Minhas experiências na vida
que tive na Terra foram das mais, muito interessante.
Fui um daqueles que
trabalhou na construção de pontes e estradas. E lá pelos anos de 1920 e 1930.
Tudo era muito diferente para as obras, quando comparadas com hoje. As
atividades eram mais difíceis e o tempo também era mais complicado. Sofria com
as diferentes temperaturas, com o calor do sol e com os ventos que secavam a
garganta. Tive minhas horas de descanso como muitos faziam, bebericando nos
bares da vida, conhecendo mulheres e as vezes até me envolvendo em confusões,
em brigas.
É claro que me queixava, no
silêncio do meu íntimo, sobe a condição dos trabalhos pelo qual passava. Queria
entender, o porquê de ter que sofrer tanto para conseguir viver. Mas as
atividades eram longas e intermináveis. Quando iniciavam as obras de uma
estrada, dava a impressão de que não se chegaria ao fim. E tudo era deixado de
lado, em particular os pensamentos da dor e da saudade de casa e da família.
Foi com muita dor e
sofrimento que meu corpo foi sentindo o peso do trabalho. Claro que era tudo
trabalho duro e tinha que esforçar ao máximo para concluir o que estaria
determinado pelo chefe da obra. As dores e os calos já não permitiam mais uma
vida adequada. Sentia que tinha de trocar de profissão. Mas as condições não
permitiam. Quando terminava uma obra ficava esperando o surgimento de outra. E
nesse tempo de espera tinha que fazer bicos para conseguir algum dinheiro para
o sustento.
É, a vida me ensinou muitas
coisas, com muita dor e angústias. E sempre decidi saber o porquê de tanto
sofrimento. Eu até aceitava as condições do trabalho duro; de quebrar pedras ou
mesmo de empurrar e colocar blocos pesados nas estruturas. De erguer vigas de
ferro ou mesmo de cavar a terra sob o sol escaldante. Mas essas dores deixavam
marcas profundas em meu corpo. E o pó da estrada e o ar seco, e o sol, deixaram
meu corpo muito debilitado. Mas o pior eram as doenças que adquiria com o
tempo. E foi numa dessas que meu corpo não suportou.
A malária se fez muito forte
em muitos dos que trabalhavam na construção de uma estrada. E eu estava entre
os muitos doentes. Fomos isolados em barracas, onde recebíamos os tratamentos
médicos. E eu passei a ter delírios com a febre, que era alta.
De hora em hora, um padre
passava por entre as macas e fazia orações. Eu não sabia orar. E quando o padre
orou pela alma, de um amigo que morria ao meu lado, foi que pedi para o padre
me explicar porque tive aquela vida e porque tinha que morrer daquele jeito. O
padre explicou muitas coisas, mas não entendia muito o que ele explicava, isso
porque não fazia sentido para mim aquelas explicações.
E com o passar do tempo,
vendo que a cada dia morria um ou dois, eu comecei a rezar para quando chegasse
a minha vez de morrer. Pedi ao padre me ensinar uma oração e ele me ensinou a
Ave Maria. Foi quando estava rezando a Ave Maria, numa certa manhã, junto com o
padre, que percebi algo diferente.
O padre havia me dado a
extrema-unção, e eu estava morrendo. Mas me vi fora da maca e amigos meus
vieram ao meu redor. E, acreditem, a primeira pergunta que fiz foi: Por que
tive que passar por essa vida de dor? A pergunta foi no impulso. Mas me
disseram que entenderia.
Sim, eu entendi. Depois de
um tempo pude recordar de minhas vidas passadas, de outras experiências. E numa
dessas eu vi e vivi como chefe de obras em construções que ainda encontram os
olhos humanos.
O meu desprezo pelos outros
que trabalhavam de sol a sol, foi cobrado de mim na vida que tive como
construtor de estradas e pontes. E a malária foi minha porta de saída dos
desafios que me coloquei para aprender e me redimir das dores que em outros
causei. É, foi a malária e sua febre o relógio em contagem regressiva a apontar
o que eu naquele momento não sabia: a de que estava saldando um aprendizado. E
o padre que não me conhecia, ele sim, foi meu anjo guia, a me conduzir até a
porta de entrada na Casa do Pai.
Fica minha experiência
registrada. De um obreiro que aprendeu para ensinar.
Fiquem com Deus, sempre!
Antonio Cândido
Psicografado em 26 de agosto
de 2017.