Foi uma vida feliz que
desfrutei na Terra. Era uma dona de casa, com todos os afazeres costumeiros.
Casei com um companheiro muito dedicado e que sempre trabalhou para nada faltar
no lar. Fui mãe de três filhos: Do João, o primeiro, do Marcos, o segundo, e da
Sofia, a filha mais nova. Sempre me dediquei em dar o melhor em termos de
religião aos meus filhos. Procurei sempre seguir o eu tinha aprendido com meus
pais amorosos. Levei meus filhos para Igreja, onde conduzi para eles todos os
sacramentos da Igreja. A dedicação sempre foi em passar o caminho correto para
se atingir os Céus e estar com Cristo.
Apesar de ter uma vida que
considerei feliz, tive que passar por algumas dificuldades, mas nada que
causasse algum desconforto ou preocupações maiores; tudo sempre se resolvia e a
normalidade se fazia, seja no lar ou mesmo nas condições de saúde.
Mas com o passar dos anos
os filhos foram chegando na idade de deixar o lar. E quando a minha pequena
Sofia atingiu a maior idade, o meu querido companheiro teve de nos deixar. Hoje
entendo isso! Ele deixou o convívio do nosso lar para viver no Céu. É, foi a
maior dor que tive: a morte de meu companheiro. E em meu lar, agora, naquela
época, ficou eu e minha filha. Meus dois primeiros filhos já estavam casados e
morando em outra cidade.
O tempo passou, mas a
solidão não. E os dias pareciam cada vez mais cinzentos. Procurava transparecer
força, mas em meu intimo a saudade gritava. E nada acontecia para acalmar,
mesmo que um pouquinho.
Dois anos após o
desencarne de meu companheiro amado, minha pequena Sofia casou com um querido e
simpático homem. No momento a alegria me tomou conta, mas na semana seguinte a
saudade passou a me martirizar. Na solidão do lar as lembranças da vida em
companhia dos queridos familiares me deixavam uma dor imensa no peito. E tudo
parecia levar para problemas cardíacos. Mas não! Era apenas as questões emocionais
e a própria necessidade de se adaptar à solidão.
E foi quando, aos 88 anos,
tive contato com o Espiritismo. Foi em uma palestra que senti pela segunda vez
o reconforto que havia perdido quando a convivência com os meus, em meu lar. Conheci
esperança e passei a alimentar o momento do reencontro com meu companheiro, com
minha mãe e com meu velho pai. Conhecendo o Espiritismo, passei a vislumbrar a
alegria constante do futuro reencontro com pessoas queridas. E mais que apenas
pensar no reencontro, passei a ver que em meu lar eu não estava solitária,
nunca! Estava na companhia de pessoas queridas, de almas amorosas. Onde antes
eu via o silencio e o vazio, passei a ver pessoas queridas a me falar sobre
esperança e amor.
É, foi aos 88 anos que
conheci o Espiritismo, e ele fez toda a diferença em minha breve vida que tive
ainda na Terra. Aos 89 passei a ouvir vozes em minha casa, e claro que já sabia
de quem era. Minha mãe estava me visitando. Falava ela que logo eu poderia
partir. Não falava disso para ninguém e quando meus filhos vinham me visitar,
dizia apenas que meu tempo já era curto. Eles praguejavam dizendo que eu estava
em boa saúde e duraria mais 10 anos.
Mas eis que o momento
chegou, aos 90 anos, no mês de maio, entrei em um sonho, que nunca mais
acordei; um sonho feliz, onde reencontrei muitas pessoas queridas, amigos,
familiares, vizinhos. Pude, então, abraçar todos eles com uma ternura. E na
Terra via a dor da saudade que deixava em meus filhos. A Sofia, então,
pobrezinha, se culpava por não ter me cuidado. E esse remorso me apertou o
coração por um bom tempo. E os outros dois filhos, esses conseguiram superar a
dor do luto com mais facilidade.
Hoje vivo no Céu, na
cidade de luz e amor, localizada mais ou menos sobre Porto Alegre, e é de lá
que venho para aqui escrever minha experiência. É uma experiência de fé. E é
preciso fé para superar as dores que mais nos apertão no coração. A dor da
saudade e da melancolia, a dor da solidão e do isolamento, são as que mais
apertão e dilaceram o coração da Alma.
Mas, é graças ao
Espiritismo que pude suportar e aguentar tal sofrimento e aos 88 anos encontrar
o caminho da Luz.
Fiquem com Deus.
Da sempre amiga!
Ana Clara
Psicografado em 24 de
fevereiro de 2018.