domingo, 6 de maio de 2018

Foi aos 88 anos


Foi uma vida feliz que desfrutei na Terra. Era uma dona de casa, com todos os afazeres costumeiros. Casei com um companheiro muito dedicado e que sempre trabalhou para nada faltar no lar. Fui mãe de três filhos: Do João, o primeiro, do Marcos, o segundo, e da Sofia, a filha mais nova. Sempre me dediquei em dar o melhor em termos de religião aos meus filhos. Procurei sempre seguir o eu tinha aprendido com meus pais amorosos. Levei meus filhos para Igreja, onde conduzi para eles todos os sacramentos da Igreja. A dedicação sempre foi em passar o caminho correto para se atingir os Céus e estar com Cristo.
Apesar de ter uma vida que considerei feliz, tive que passar por algumas dificuldades, mas nada que causasse algum desconforto ou preocupações maiores; tudo sempre se resolvia e a normalidade se fazia, seja no lar ou mesmo nas condições de saúde.
Mas com o passar dos anos os filhos foram chegando na idade de deixar o lar. E quando a minha pequena Sofia atingiu a maior idade, o meu querido companheiro teve de nos deixar. Hoje entendo isso! Ele deixou o convívio do nosso lar para viver no Céu. É, foi a maior dor que tive: a morte de meu companheiro. E em meu lar, agora, naquela época, ficou eu e minha filha. Meus dois primeiros filhos já estavam casados e morando em outra cidade.
O tempo passou, mas a solidão não. E os dias pareciam cada vez mais cinzentos. Procurava transparecer força, mas em meu intimo a saudade gritava. E nada acontecia para acalmar, mesmo que um pouquinho.
Dois anos após o desencarne de meu companheiro amado, minha pequena Sofia casou com um querido e simpático homem. No momento a alegria me tomou conta, mas na semana seguinte a saudade passou a me martirizar. Na solidão do lar as lembranças da vida em companhia dos queridos familiares me deixavam uma dor imensa no peito. E tudo parecia levar para problemas cardíacos. Mas não! Era apenas as questões emocionais e a própria necessidade de se adaptar à solidão.
E foi quando, aos 88 anos, tive contato com o Espiritismo. Foi em uma palestra que senti pela segunda vez o reconforto que havia perdido quando a convivência com os meus, em meu lar. Conheci esperança e passei a alimentar o momento do reencontro com meu companheiro, com minha mãe e com meu velho pai. Conhecendo o Espiritismo, passei a vislumbrar a alegria constante do futuro reencontro com pessoas queridas. E mais que apenas pensar no reencontro, passei a ver que em meu lar eu não estava solitária, nunca! Estava na companhia de pessoas queridas, de almas amorosas. Onde antes eu via o silencio e o vazio, passei a ver pessoas queridas a me falar sobre esperança e amor.
É, foi aos 88 anos que conheci o Espiritismo, e ele fez toda a diferença em minha breve vida que tive ainda na Terra. Aos 89 passei a ouvir vozes em minha casa, e claro que já sabia de quem era. Minha mãe estava me visitando. Falava ela que logo eu poderia partir. Não falava disso para ninguém e quando meus filhos vinham me visitar, dizia apenas que meu tempo já era curto. Eles praguejavam dizendo que eu estava em boa saúde e duraria mais 10 anos.
Mas eis que o momento chegou, aos 90 anos, no mês de maio, entrei em um sonho, que nunca mais acordei; um sonho feliz, onde reencontrei muitas pessoas queridas, amigos, familiares, vizinhos. Pude, então, abraçar todos eles com uma ternura. E na Terra via a dor da saudade que deixava em meus filhos. A Sofia, então, pobrezinha, se culpava por não ter me cuidado. E esse remorso me apertou o coração por um bom tempo. E os outros dois filhos, esses conseguiram superar a dor do luto com mais facilidade.
Hoje vivo no Céu, na cidade de luz e amor, localizada mais ou menos sobre Porto Alegre, e é de lá que venho para aqui escrever minha experiência. É uma experiência de fé. E é preciso fé para superar as dores que mais nos apertão no coração. A dor da saudade e da melancolia, a dor da solidão e do isolamento, são as que mais apertão e dilaceram o coração da Alma.
Mas, é graças ao Espiritismo que pude suportar e aguentar tal sofrimento e aos 88 anos encontrar o caminho da Luz.
Fiquem com Deus.
Da sempre amiga!
Ana Clara
Psicografado em 24 de fevereiro de 2018.

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