Na madrugada do dia 04
de dezembro de 2011, fui levado pelo Mentor Bartolomeu até uma
região umbralina localizada em alguma parte da Ásia. Pelas
informações do Mentor, a referida região está localizada nas
proximidades etéreas de uma cidade da Índia, que faz fronteira com
o Paquistão.
Quando chegamos numa
determinada localidade da região umbralina, notei que o ambiente
todo era completamente seco, dando a impressão de estarmos
atravessando um deserto. A luminosidade do ambiente era baixa, e
parecia que estávamos andando abaixo de uma cortina de areia, que
impedia a luminosidade do Sol. A luz do ambiente era de um tom
alaranjado.
O chão era arenoso e
seco; era possível perceber uma película de pó na cor de tijolo a
cobrir o chão.
Caminhamos por alguns
momentos, até perceber que adentramos em uma cidade que dava a
impressão de estar abandonada; isso porque o estado de tudo era
muito precário. É como se aquela cidade estivesse em completa
ruína, pois todas as casas (que mais se pareciam com cabanas) haviam
sido destruídas e só parte delas continuava de pé.
No entanto, a cidade
não estava abandonada. Gritos e gemidos de dor passaram a ser
ouvidos a todo o momento. Frases de ameaça também eram ouvidas.
Diante da minha surpresa, Bartolomeu esclareceu.
-Charles! Não tenhas
receio do que veremos. Muitos dos que estão aqui não nos percebem,
e apenas alguns outros poderão lhe perceber. Mas você pode ficar
tranquilo, pois logo chegará um guia para nos conduzir até a outra
extremidade da região. Vamos descer até a área onde estão Irmãos
em estado de sofrimento por não aceitarem a existência da igualdade
dos Espíritos perante o Pai Celestial. São Irmãos que ainda em seu
estágio evolutivo, discordam das oportunidades iguais para todos no
caminho da evolução Espiritual. Comportam-se assim porque
pressentem que terão de encarnar entre aqueles grupos que ele
desconsiderava perante o Pai Celestial. Desconsiderava-os como Irmãos
e os comparava ao menor dos seres e indignos de ocuparem os mesmos
espaços que o deles durante a encarnação na Terra.
Enquanto Bartolomeu
explicava, fomos andando por uma rua toda empoeirada. Não era
difícil ver os vultos correndo de um lado ao outro, como se
estivessem fugindo de alguma coisa que eu não consegui ver. Alguns
passavam aos gritos. Outros apenas corriam. Enquanto que outros
estavam parados junto de janelas destruídas, contemplando o vazio;
era como se estivessem olhando para suas lembranças na Terra.
Logo chegou uma
entidade que cumprimentou-nos.
-Olá meus Irmãos!
Estou feliz pela visita! Esse não é o local mais apropriado para
nosso encontro, mas estamos diante de Irmãos nossos que necessitam
de toda a nossa atenção e amparo. Irmão Bartolomeu, permita-me
apresentar ao nosso Irmão Charles. Sou o Irmão Al-Kazim. Estou aqui
para lhe conduzir até outra região onde outros Irmãos, em estágio
de purgação de suas vaidades e egoísmos estão a negar a bondade
de Deus. Irmão Charles! Fique a vontade para perguntar o que
desejares, pois sabemos do trabalho que está desenvolvendo em
conjunto com a equipe no nosso Irmão Bartolomeu. Estou orando por
vocês já faz alguns dias. Pedindo a luz necessária para podermos
aproveitar suas potencialidades a fim de levar aos Irmãos
encarnados, o conhecimento de tais realidades. Nesse momento em que
congraçamos nossos pensamentos, sob o louvor de Deus, que nosso
Mestre Jesus lhes iluminem hoje e sempre!
Numa demonstração de
carinho, que me fez volitar alguns centímetros do chão, agradeci e
desejei que Deus também iluminasse o coração afetuoso do Irmão
Al-Kazim.
Bartolomeu teceu breve
elogio e agradeceu toda a atenção que nosso Irmão estava
depositando, não somente em nós, mas para todos aqueles Irmãos que
ali estavam habitando temporariamente.
Perguntei para Al-Kazim
sobre seu trabalho na região.
-Sou um dos Irmãos
trabalhadores que acompanham os que aqui se encontram. Nosso trabalho
é buscar acelerar a saída dos que aqui se encontram. São muitas as
vezes que nos aproximamos de diversos de nosso Irmão que aqui
sofrem, para lhes intuir em pensamentos mais nobres. Conversamos,
sempre que a oportunidade surge, indicando o caminho do bem e o
pensamento na misericórdia divina. Buscamos demover as ideias que
ainda trazem do aprendizado na Terra. Muitos aqui nesse lado onde nos
encontramos, são homicidas e ainda carregam grande ódio no coração
e desejo cego de vingança.
No que Al-Kazim
terminou de falar, ouvimos gritos de ameaça bem à nossa frente, no
interior de algo que parecia uma choupana, sem as paredes da frente.
Um homem apontava as
mãos para outro, lhe ameaçando de morte. Paramos naquele momento.
Al-Kazim pediu para aguardarmos, enquanto caminhou na direção
daqueles dois. O homem que ameaçava com as mãos, parecia estar
segurando uma arma de fogo. O outro gritava dizendo que já tinha
matado toda a família do oponente e que agora não tinha mais medo
de morrer; e dizia com ar de sarcasmo:
-Atira! Atira! Já
matei tua esposa e filha. Já vinguei a morte do meu pai. Atira se
tiver coragem!
Al-Kazim transformou-se
naquele instante, assumindo a forma de um ancião, e se colocou entre
os dois.
Começaram, então, a
xingar Al-Kazim, que continuou imóvel entre os dois, apenas olhando
para aquele que fazia gestos de estar segurando uma arma e ameaçando
atirar no outro. Depois de algum tempo, os xingamentos diminuíram e
Al-Kazim começou a falar com o homem que ameaçava:
-Então! Agora que você
não atirou, agora que você decidiu não fazer uso da arma, quem
sabe você a entrega para mim para que a mesma tenha o fim que
merece. Você não vai fazer mais uso dela. Já faz dias que vocês
dois chegam nesses termos e você nega puxar o gatilho. Quem sabe
agora você deixa essa vingança de lado, pois o que está feito...
está feito! Quanto a você Mohamed, busque pensar mais em Deus.
Volte a orar como a Anastásia te ensinou. E não volte mais para
esse lugar que te faz lembrar coisas desagradáveis.
Fato é que Mohamed
saiu em disparada logo em seguida. Enquanto que o outro negou em
entregar a suposta arma que ele achava que segurava.
Al-Kazim conversou por
mais alguns instantes com ele. Acho que ficamos uns vinte minutos
ouvindo o diálogo. Em seguida veio em nossa direção, assumindo a
forma de antes.
-Irmãos! Bartolomeu e
Charles! Não poderia ter perdido a oportunidade do atendimento.
Certamente que tal acontecimento está nos desígnios de Deus.
Charles. Tínhamos pensado em levar nosso Irmão até a outra área,
mas agora estamos com o tempo comprometido.
Bartolomeu logo
intercedeu.
-Irmão Al-Kazim! A
oportunidade do seu trabalho foi de grande valia para nosso Irmão
Charles. Situações assim não ocorrem a todo o momento e este foi
um excelente aprendizado. Mostrando o quanto os Irmãos são capazes
de carregar na Alma os desafetos e situações que lhes enrijecessem
a consciência para o bem. Mas vamos até onde o tempo permitir...
Bartolomeu não chegou
a concluir a frase, e logo se aproximou de nós o homem com quem
Al-Kazim conversou.
-Você aí (dirigindo a
fala para Al-Kazim). Não viu o senhor de idade?
Al-Kazim perguntou:
-Você procura aquele
senhor que aparece por aqui falando de Deus e de perdão?
-Sim! Esse mesmo.
-Estou indo ao encontro
dele, você deseja alguma coisa?
-Quero entregar minha
arma para ele.
-Pois entregue para mim
que eu mesmo levo para ele.
-De jeito nenhum. Eu
mesmo quero entregar. Não quero que ela caia em mãos erradas.
-Então aguarde apenas
um instante aqui mesmo. Vou chamá-lo até aqui.
O Irmão Al-Kazim se
fez invisível para aquela entidade. Ela também, em nenhum momento
enxergou ou percebeu a nossa presença; nem a minha e nem a de
Bartolomeu.
Em seguida, Al-Kazim se
posicionou ao lado do homem, já assumindo a forma de um ancião.
-Mustafá! Disseram que
desejas falar comigo. Do que se trata?
-Sim! Quero lhe
entregar minha arma.
O homem estendeu a mão
em direção de Al-Kazim, como se estivesse segurando algo.
Al-Kazim fez o mesmo
gesto, como se estivesse pegando algo, e disse:
-Muito bem, Mustafá!
Agora peço que procure um lugar calmo e inicie a orar pela sua
esposa e pela sua filha. Peça a Deus que as ilumine com muito amor.
Peça, em suas orações, que Deus tenha piedade daquele que as
matou. Ore com muita certeza na bondade de Deus. Para que todos
estejam protegidos e amparados pela luz divina: sua esposa, sua filha
e Mohamed. Logo a Anastásia vai lhe encontrar para te auxiliar nas
orações. Agora vai! E acalma teu coração. Um grande passo destes
hoje. Estou muito feliz por você.
Mustafá se afastou com
um olhar ainda de resistência. Mas disse que estaria indo procurar
um templo para orar pela esposa e filha assassinadas.
Bartolomeu comentou que
o coração de Mustafá começara a se desfazer de amarras materiais
de ódio e vingança; e complementou:
-Mas ainda levará
algum tempo para Mustafá se desfazer do ódio completo contra
Mohamed. Ambos se afastarão agora. Seguirão caminhos diferentes em
direção ao esclarecimento. Mas quando o momento chegar, quando
estiverem com consciência, se encontrarão na Espiritualidade para
juntos encaminharem a próxima experiência na Terra. Charles! O que
vimos hoje é uma dádiva. As circunstâncias nos oportunizaram
momentos de encaminhamento espiritual. Não temos mais tempo hábil
para descermos até a outra extremidade da região. Creio ser
possível chegarmos ao máximo na divisa dela.
Al-Kazim, já assumindo
sua aparência pontuou:
-Vamos levar nosso
Irmão Charles para conhecer a fronteira que separa essas duas áreas
da região. Mesmo tendo pouco tempo, vamos sem demora.
Enquanto volitávamos
por decidas em declives acentuados, passei a perceber o quanto o
ambiente ia apresentando formas mais desgastadas. A umidade também
passou a dar uma forte impressão de desconforto. O chão era de lama
coberta por musgo. Logo chegamos diante de barrancos enlameados, que
mais pareciam trincheiras. Passamos por entre estreitas aberturas que
davam caminho a corredores por entre os barracos. Não vi entidades
ali. Mas a sensação naqueles corredores, com barrancos que deviam
ter em torno de dois ou três metros, era de estar caminhando dentro
de sepulturas abertas na terra, em uma região pantanosa.
Ao passarmos por essa
área dos barrancos, volitamos por um extenso lago de água escura e
viscosa. Ao chegarmos à outra margem Al-Kazim comentou:
-Irmão Charles!
Passamos pela fronteira. Toda essa área de valos profundos e de
pântano aquoso é a fronteira que divisa as regiões. Irmãos que
estão aqui, não conseguem passar pela fronteira, pois se perdem no
labirinto dos valos e acabam sempre retornando para a área
pantanosa. Estamos sob o tempo. Charles! Agora temos de retornar,
pois aqui já começa a escurecer e em sua cidade já amanhece.
A paisagem que estava
na minha frente era de extrema vastidão de arvores ressequidas e
mortas, com lama por toda a parte e fumaças em tom escuro
concentradas em alguns pontos. Logo a escuridão tomou conta de toda
a região. Como se a luz, que já era fraca, apagasse de repente.
Bartolomeu orientou
para retornarmos para antes da fronteira. Assim meu retorno não se
daria sob as condições umbralinas da qual estávamos saindo.
Volitamos sobre o
pântano e sobre os valos, até iniciarmos, já além da fronteira, a
subir o caminho em direção a cidade.
Bartolomeu ponderou
então que não havia mais tempo. Meu retorno deveria ser imediato. E
colocando a mão sobre minha cabeça, disse:
-Retorne agora, pois o
despertador está tocando.
Eram sete horas de
domingo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário