Eis que o momento chegou. Era
dia 31 de março de 1869, fazia dez dias que a estação da primavera iniciava a
florir Paris e Kardec contava com 64 anos e cinco meses. As orientações da
Espiritualidade, de amigos fraternos, já haviam lhe indicado atenção quanto ao
trabalho estafante. Os trabalhos exaustivos e a dedicação incansável à missão
de fazer nascer o Espiritismo, somado ao cansaço da mudança para o novo lar e ao
frio do inverno que cobrou um esforço maior do coração, fizeram com que as
rotinas de trabalho do missionário chegassem ao intervalo de descanso.
O desencarne se fez de forma
abrupta. Somente suas mãos espirituais acolheram ao peito no momento fugidio de
uma sensação de aperto e queimação. Tudo ocorreu muito rápido, poupando Kardec
de qualquer sofrimento físico ou de embargos que estendessem um prolongamento de
uma vida parcial do encarnado. O desligamento imediato de partes vitais
oportunizou ao missionário enxergar o aparelho físico já inerte, enquanto que o
irmão que pegaria os pacotes da Revista Espírita, assustado, procurava reanimar
o combalido corpo, chamando-o pelo nome. Gabi, sua esposa, nada demorou para
verificar que o momento havia chegado. O corpo de Kardec não reagia mais. E ali
estava o Espírito de Kardec a observar a cena, lhe causando certa confusão e
angústia ao ver e ouvir a dor, o pesar e o sofrimento daquela que lhe apoio sem
pestanejar.
A lástima dos amigos ao
chegarem e observarem o missionário Kardec sobre um colchão, faziam ao Espírito
recém desencarnado sentir na sua Alma o ecoar da dúvida quando dos primeiros
momentos que tomou para estudar sobre as manifestações do mundo invisível.
A sala onde o corpo era
velado estava repleta de Espíritos, confirmando ao missionário que, de fato, o
mundo invisível se acotovela em observar o mundo dos encarnados.
Kardec, agora desencarnado,
não arredava do lado da sua esposa Gabi. Junto de Kardec estava o Espírito de
seu pai, lhe dando o suporte necessário para o momento de transição. Foi esse
Espírito, seu pai, Jean-Baptiste Antoine Rivail, quem acompanhou, orientou e
protegeu Kardec durante a atividade missionária de estabelecer o Espiritismo.
Pai esse que desencarnou em atividade militar na Espanha, quando Kardec, ainda
na infância, tinha de três para quatro anos. O Espírito de Jean-Baptiste
acolhia e aconselhava Kardec a cada momento específico do velório, do cortejo
fúnebre e das homenagens; da mesma forma que durante a construção da Doutrina
também o fizera, ao chamar a atenção sobre questões textuais e orientar sobre o
conhecimento espírita organizado por Kardec.
Ocorre que Kardec recebeu do
Alto a oportunidade de acompanhar todo o cortejo fúnebre, e pode, assim, ouvir
e sentir os efeitos das conversas e dos pensamentos dos encarnados. Ouviu cada
palavra dos companheiros que acolheram em discurso junto do local onde era
depositado o corpo. E com maior facilidade pode perceber e distinguir o que era
dito com sinceridade, daquilo que era pronunciado apenas como pompa;
identificando sentimentos de sinceridade, interesses e também de oportunidades
que se manifestavam no íntimo dos encarnados que labutariam pela continuidade
do Espiritismo.
Kardec vislumbrou nos
discursos a verdade ditada pelos Espíritos Superiores quando da origem da
Doutrina. O Espiritismo não seria mais o mesmo. Outros propagadores; novas
realidades. O Espiritismo se propagaria, sim, tal como fora ditado pelos
Espíritos em Prolegômenos, no Livro dos Espíritos, ou seja: a de que a vaidade
de certos homens, que julgam saber tudo e tudo explicam a seu modo, dará
nascimento a opiniões dissidentes. Mas, quanto aos seus fundamentos, a Doutrina
será sempre a mesma para aqueles que receberem comunicações de Espíritos
Superiores.
A certeza nos princípios do
Mestre Jesus e a crença nas bases da Doutrina era o que lhe dava um pouco de
tranquilidade quanto ao coração da sua companheira Gabi, que poderia ser
arrastada ao erro para atender às particulares pretensões de certos
propagadores do Espiritismo.
Terminado os atos fúnebres, o
cerimonial se desfez e Kardec se despediu daqueles que lhe foram caros. Seu
retorno só ocorreria em próxima encarnação, sem haver tempo nesse interregno para
qualquer aproximação ou manifestação do missionário no mundo encarnado. O
Espírito Jean-Baptiste levou Kardec para o acolhimento hospitalar na
Espiritualidade. Afinal, era necessário o atendimento revigorador da Alma de Kardec;
bem como o órgão cardíaco necessitava de reparos.
Bartolomeu (Espírito Mentor)
Mensagem recebida em 07 de
julho de 2015.
Que o nosso Amado Codificador possa, agora que está de novo reencarnado, cumprir e terminar sua tarefa na Luz. Abraços nessa Luz. Álvaro de Jesus, cidade do Porto-Portugal e Novo Templo 'O Caminho'.
ResponderExcluirEle já reencarnou? Teve uma bela e responsavel missão...muita paz
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