Ao atravessar a ponte, notei que a rua que nos conduzia até a cidade passou a ser pavimentada. O calçamento era bem semelhante aos paralelepípedos das ruas de muitas cidades da Terra. A cidade estava, agora, a uns duzentos metros, e eu já via algumas entidades na entrada, juntos a uma espécie de guarita. Na medida em que nos aproximávamos, notei que uma delas me parecia conhecida.
Quando já estávamos a uns dez metros da entrada, a entidade que me era conhecida se deslocou até nós para nos recepcionar.
-Como vai meu aluno?! Quanto tempo não nos vemos?! Estou muito feliz em poder te recepcionar aqui em Vera Cruz, onde estou morando agora.
A entidade em questão foi meu conhecido na Terra; um senhor que desencarnou em 1993 com mais de oitenta anos. Por quase dois anos ele foi meu professor sobre o espiritismo.
-Meu professor Manoel! Que bom lhe reencontrar!
A situação era de muita alegria. Manoel, como sempre, estava sempre sorridente. Ele disse que foi procurado pelos “curadores” para que viesse me recepcionar e mostrar a cidade para mim, visto que fomos próximos na terra sobre os assuntos da espiritualidade. Lembraram-lhe os “curadores” que em certa ocasião eu perguntara para Manoel como seria a vida e a cidade no plano espiritual, e que agora ele teria a oportunidade de reencontrar um irmão encarnado e lhe apresentar alguns detalhes da vida em uma das casas do Pai.
Bartolomeu explicou que aquele momento já havia sido planejado ainda quando eu ia visitar o Manoel em sua residência. Naquelas oportunidades eu questionava-o sobre as condições de vida no plano espiritual.
Após os cumprimentos respeitosos entre todos, Manoel solicitou para lhe acompanhar. Fomos até a guarita, onde ele me apresentou duas entidades que estavam ali. Disse que ambas trabalhavam na organização das entradas, identificando todos que ali chegam. Destacou que em todas as entradas da cidade existem irmãos que executam aquele tipo de serviço. Olhando para dentro daquela guarita, notei um sistema de tecnologia bem avançado, onde telas suspensas pareciam monitorar diversas entradas da cidade, com listas de nomes que corriam em uma parte da tela.
Manoel disse que antes de apresentar os principais pontos da cidade, me levaria até sua casa.
Da guarita até a casa do Manoel, andamos por uma imensa área residência. As casas eram de um ou dois andares, com jardins ao seu redor. A movimentação na rua era semelhante aos horários da manhã, quando nos deslocamos para o trabalho. A impressão de que estava nas primeiras horas da manhã na cidade Vera Cruz se confirmou quando Manoel disse que a cidade estava despertando para mais um dia de intensos trabalhos. Disse que os “curadores” lhe informaram que eu chegaria à entrada da cidade às quatro horas da manhã. E que fomos bem pontuais.
Depois de andarmos por alguns quarteirões, Manoel parou e disse:
-Olhe aqui meu aluno. Está é minha casa. Humilde como eu sempre disse. Na Terra eu sempre preparava um cafezinho, mas aqui eu quero lhe oferecer um copo com a água da cidade. Você vai gostar. Vamos entrar.
A casa era pequena e ajardinada na frente. No seu interior mais duas entidades se encontravam sentadas junto a uma pequena mesa. Também nos recepcionaram quando chegamos. Manoel apresentou as entidades, explicando que elas haviam sido seus familiares na Terra. Ele solicitou para que eu e o Bartolomeu também sentássemos junto à mesa. A mesa tinha um tecido branco sobre ela e no centro havia uma jarra, também branca, sobre uma bandeja de metal, com cinco copos em cima. Ele pegou um dos copos e colocou a água da jarra e deu para eu beber.
-Meu aluno, bebe a água que te dou, composta com o amor de nosso Pai celestial.
Tive uma sensação agradável ao beber aquela água. Mas não saberia como explicar sobre a consistência da mesma.
Manoel passou então a falar.
-Estou muito feliz por este momento, viu meu aluno. Aqui, como te falei quando estava encarnado, vestimos roupas leves e também dormimos menos. Nós trabalhamos muito aqui. Eu fiquei responsável por uma turma onde exerço o trabalho de professor de evangelização.
Depois de rápida conversa junto à mesa, Manoel me levou conhecer as dependências da casa. Mostrou-me o quarto, onde havia três camas com lençóis brancos. A cozinha tinha apenas uma pia e algo semelhante a um fogão, com uma pequena mesa na sua frente, junto à parede. Este local era bem pequeno. Não quis fazer perguntas sobre a casa para não parecer deselegante. Nos fundos da casa havia um pomar com árvores frutíferas de pequeno porte. Mostrou-me um oratório que fez na sala Era composto de uma pia de mármore com uma fonte de água. A pia era semelhante aquela que encontramos nas entradas das igrejas católicas. Depois disso ele disse sobre a necessidade de nos apressarmos, pois meu tempo na cidade era pouco.
-Meu aluno, vamos agora para o prédio da governadoria de Vera Cruz. Pretendo lhe mostrar os lugares mais importantes antes que você tenha que retornar para a Terra. Vamos logo, pois seu tempo é curto.
Quando saímos da casa, Manoel continuou falando.
-Estou sabendo de que você já conheceu a cidade Nosso Lar. Isso facilita seu entendimento sobre Vera Cruz. Esta cidade tem, basicamente, a mesma formação. Suas ruas de acesso, todas elas levam ao centro, onde está o prédio da governadoria. A cidade tem a forma circular. Aqui todo mundo se ajuda. Sabe, todas aquelas desavenças que um dia aconteceram entre irmãos na Terra, aqui são ignoradas e perdoadas. A convivência aqui tem um significado maior e entendemos que na Terra alguns irmãos nosso às vezes exageram nas suas ações. Mesmo naquelas que visam proteger seus pontos de vista.
Manoel falou isso, pois antes de seu desencarne, o centro espírita que ajudou a fundar, estava passando por problemas na sua administração. Os dirigentes e os que almejavam a direção travaram uma disputa que se refletiu nos trabalhos da casa. Apesar do Manoel não estar mais exercendo atividades administrativas e nem mesmo ter se envolvido na situação, o conhecimento dos fatos lhe deixou muito consternado.
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