segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O resgate do menino Hugo


Foi numa das atividades, das muitas que são realizadas na espiritualidade, que certa noite fui levado para o Hospital de Cáritas. Estando lá, o Mentor Bartolomeu dirigiu-me até ao consultório médico do Dr. Oberdam, psicólogo da espiritualidade. Lá também estava do Dr. Rafael, médico pediatra.
-Olá meu querido Irmão Charles! - Cumprimentou-nos o Dr. Oberdam – Seja bem vindo. Que nosso Pai Amado ilumine seu coração. Meu querido Irmão Bartolomeu! Que a luz de Amor, de nosso Pai se faça em nossos corações.
O Dr. Oberdam, amorosamente, dirigiu suas palavras para nós ali presente e comentou que logo chegariam outros Irmãos e daria as informações precisas sobre a atividade a desempenhar.
Por sua vez, o Dr. Rafael também cumprimentou-nos no mesmo estilo do Dr. Oberdam. Comentou ainda para aguardarmos os préstimos da Irmã Edileusa, uma estudante de pediatria da espiritualidade e dedicada em atividades de resgate, que nos acompanharia na tarefa.
Logo entendi que o assunto se tratava de resgate de criança, tal como já realizamos em outras oportunidades nas regiões umbralinas.
O Mentor Bartolomeu fez uma comovente oração ao cumprimentar a todos que estavam na sala. Sua oração, em poesia, fez a sala iluminar-se em tom prateado.
Não demorou nada e logo chegou na sala a Irmã Edileusa e mais três outras Irmãs. Após os cumprimentos e apresentações o Dr. Oberdam passou a explicar sobre a atividade:
-O grupo está constituído na Sala. Hoje necessitamos nos dividir e vamos encaminhar dois missionários para resgates em regiões distintas. O Irmão Charles e a Irmã Edileusa irão até a praça da cidade umbralina de Colina e as Irmãs Odete e Marta descerão até as imediações da Terra, onde a cidade de Colina intermedeia os umbrais terrenos da cidade de Caxias do Sul. Nossa tarefa é resgatar o Irmãozinho Hugo, que já desencarnou a mais de três semanas, em acidente que também vitimou sua avó. Alerto que existe uma ligação muito forte entre o neto e a Irmã Miguelina, sua avó. Hugo desencarnou com a idade de cinco anos e ainda mantém a consciência de tal criança. Merece atenção. Assim, enquanto o Irmão Charles e a Irmã Edileusa buscam o pequeno Hugo, peço que as Irmãs Odete e Marta sigam ao encontro de Miguelina e travem um diálogo amoroso com ela, para que no momento as ligações magnéticas se desfaçam e permitam o deslocamento do Irmão Hugo. Peço a compreensão de vocês diante da adversidade que encontrão. Ambos os espíritos ainda estão muito imantados. Irmã Marta e Irmã Odete, nossa Irmã Miguelina não está ainda preparada para ser resgatada, por isso, não tentem nada nesse sentido, pois poderá provocar o agravamento de sua situação psicológica. Ela não acredita na imortalidade da alma e não detém esclarecimento mínimo sobre a Espiritualidade. Sendo que vocês devem apenas conversar com ela sobre as necessidades diárias e sobre suas idas ao Templo para orar. Conversem com ela sobre a Bíblia e procurem ler algum capítulo abrindo a Bíblia ao acaso. Peçam para a Miguelina escolher uma passagem bíblica e comentar sobre seu entendimento. Durante esse momento, Irmão Charles e Irmã Edileusa estarão resgatando o pequeno Hugo. Irmão Charles, tão logo consiga a proximidade com o pequeno Hugo, pegue-o pela mão e traga-o para cá. Irmã Edileusa, tão logo o pequeno Hugo segurar a mão do Irmão Charles, faça o passe magnético sobre a cabeça e sobre o coração do menino, mantendo esse passe até vocês chegarem aqui. Meus queridos, nós vos aguardaremos aqui, em oração e vibração permanente, eu, Irmão Bartolomeu e Irmão Rafael. Vão, e que o Mestre Jesus ilumine a todos.
Ouvi atentamente as instruções. As Irmãs Edileusa, Odete e Marta, com sorriso aberto, chamaram pela proteção e amparo do Alto e imediatamente saímos da Sala, que está localizada em um dos prédios do Hospital de Cáritas na cidade Espiritual Horizonte de Luz.
Começamos a descer, e logo nos separamos. Enquanto as Irmãs Odete e Marta seguiram uma direção, eu e a Irmã Edileusa fomos noutra.
Descemos por vielas que a cada momento contrastava com ambientes de crescente penumbra. Até que chegamos na praça da cidade Colina. A luminosidade do ambiente era semelhante ao vespertino; quando o Sol já não aparece mais no horizonte. A praça era com piso de concreto e os únicos brinquedos ali eram a gangorra o escorregador e um emaranhado de grades semelhante a um labirinto, por onde as crianças podiam entrar por alguns lados e escalar em outros.
Logo a Irmã Edileusa apontou onde estava o pequeno Hugo. O menino estava sentado ao lado desse gradil. Parecia cansado de tanto brincar. Existiam outras crianças ali, assim como adolescentes. A única pessoa adulta que estava ali, se aproximou de nós e falou:
-Olá Irmãos! Tudo bem? Então, vieram para o resgate do Irmão Hugo?
Sem eu saber de maiores detalhes sobre a situação, a Irmã Edileusa esclareceu que a Irmã Zélia é uma protetora a acompanhar os pequeninos. Edileusa explicou para a Irmã Zélia e pediu sobre o emocional do pequeno Hugo, ao que ela comentou:
-No momento nosso pequeno Hugo está muito confuso. Como não vê os pais, busca saber pela avó e quando ela o levará até eles. Os pais de Hugo, apesar da gravidade do acidente, continuaram encarnados. Mas é a avó quem mantém uma forte imantação sobre o pequeno. Já trabalhamos um bocado para se desfazer essa ligação. Espero que hoje tenhamos exito de levar o nosso querido Hugo para o Hospital, a fim de que receba o atendimento no seu emocional.
A Irmã Zélia explicou ainda que, mesmo Hugo desencarnando como criança, os laços magnéticos entre ele e a avó não podem ser rompidos abruptamente. Assim como o livre-arbítrio de Hugo deve ser respeitado. Como ele desejou ficar junto a avó, a Espiritualidade definiu um meticuloso trabalho de resgate para o pequeno Hugo e de esclarecimento para a avó Miguelina.
Zélia nos conduziu para junto de Hugo e passou a falar-lhe que eu e Edileusa trabalhávamos numa praça mais iluminada e com outros brinquedos. Falou sobre uma escola que ele poderia conhecer e brincar com outras crianças.
Durante a conversa, fui a cada momento me aproximando de Hugo. Sentei ao lado dele e entre um comentário e outro que ele fazia, sobre sua bola de futebol, sobre sua mãe e seu pai, fui buscando a mão dele. Como estava sentado na sua direita, logo peguei sua mão direita e levantei-me, pedindo para ele também levantar. O que ele fez com a minha ajuda, pois aproveitei para auxiliar a levantar e não larguei mais a mão dele. Foi aí que a Irmã Edileusa iniciou o passe magnético. Ela se posicionou atrás de Hugo. Interessante. Edileusa se transfigurou naquele instante. De suas mãos saiam uma luz esbranquiçada que atingiam a parte superior da cabeça e o coração de Hugo. Também do coração de Edileusa saia uma luminosidade ainda mais clara. Enquanto que em suas costas, a irradiação se fazia de tal forma que mais pareciam com as assas de anjo.
O passe magnético fez Hugo sorrir. E numa suave flutuação, de alguns milímetros do chão, o pequeno Hugo desejou conhecer a escola e a outra praça.
Pronto. Estava dado o primeiro passo para o resgate. Os pensamentos de dor e sofrimento, os sentimentos de perda e saudade, estavam sublimados. E a lembrança das censuras da sua avó não se fizeram. Naquele momento, durante o passe de Edileusa sobre o pequeno Hugo, minha mente podia sentir e ouvir como se eu mesmo fosse o Hugo. Tudo o que ele pensava eu ouvia. O pensamento do menino passou a ter eco em minha própria consciência. E foi sentindo tal confiança que passamos a caminhar em direção ao Hospital de Cáritas. E a cada ambiente com maior claridade a que chegávamos, e lendo os pensamentos do menino, passava a contar sobre o local e destacava para ele sobre a alegria de brincar com outros brinquedos e amigos.
A Irmã Edileusa ficou completamente translúcida. Quase invisível. Ela nos acompanhava na subida, em direção a cidade Horizonte de Luz, como um Anjo da Guarda, flutuando a um metro do chão e sempre mantendo o passe magnético.
De repente senti que Hugo passou a pensar na avó. Logo percebi que ele tinha medo de ser xingado por ela. Sem que ele falasse qualquer coisa, senti como em meu coração o pavor que quase tomou conta do menino. Falei, então, do futebol que poderia praticar, para tentar distraí-lo.
Logo o pórtico de entrada do Hospital ficou à nossa frente e de imediato falei:
-Olha ali, Hugo. Chegamos!
Na frente do Hospital, ali no pórtico, diversas crianças brincavam. Interessante, pois toda vez que cheguei no pórtico de entrada do Hospital de Cáritas, sempre vi crianças brincando. Agora eu entendi o motivo.
Apontei para o Hugo as crianças que brincavam com uma bola. Ele levou o dedo na boca e ficou encabulado. Disse para ele que primeiro iriamos conversar com um amigo e depois ele já poderia brincar.
Passamos pelo pórtico e seguimos para o prédio onde está a Sala, conforme as orientações. Hugo estava apreensivo. Olhava todo aquele ambiente arborizado e as pessoas que estavam ali e começou a pensar em sua avó. Procurei distraí-lo para evitar qualquer imantação telepática.
Conseguimos entrar no prédio e subimos pelo elevador até o andar do Dr. Oberdam. Mas quando saímos do elevador, já no corredor e a poucos metros da Sala, nosso destino, senti uma forte dor no peito e um grito em minha consciência:
-Hugo! Hugo!
Em minha consciência a voz da Miguelina se fez como se eu estivesse na frente dela. E logo em seguida o xingamento começou:
-Eu disse pra não sair daqui... Agora vai ficar de castigo...
Além da voz, também vi a imagem da avó de Hugo e pude ver ele sentadinho num canto de uma cozinha quase escura; a chorar.
Essas foram as imagens que vi. E elas ocorreram no exato momento em que Hugo voltou para as regiões umbralinas. A imantação da avó se refez assim como o receio de desobedecer acabou o imantando também à sua avó.
Hugo havia desaparecido, se podemos dizer assim, de minha mão, a poucos metros da Sala.
A Irmã Edileusa, sem abater-se, disse para eu ficar tranquilo com a situação, e que deveríamos retornar para buscar o Irmão Hugo.
Na porta da Sala apareceram o Dr. Oberdam e o Mentor Bartolomeu. Me desculpei com eles pelo meu insucesso com o menino. Bartolomeu buscou amenizar meu sentimento de derrota e orientou que eu seguisse junto com a Irmã Edileusa para a casa da avó de Hugo, a fim de buscá-lo. Disse, ainda, que as Irmãs Odete e Marta já haviam retornado para conversar com a Irmã Miguelina, mas que aguardariam a nossa chegada.
Ao lado da Irmã Edileusa, passamos a refazer o caminho até ao encontro de Hugo. Confesso que um sentimento de perda preencheu meus pensamentos.
Em nossa descida, quando chegamos na praça de Colina, já as escuras e sem mais ninguém, a Irmã Edileusa levou-me até uma escadaria localizada na parte oeste da mesma. Descendo pela mesma, chegamos a uma parte com um gramado alto e em declive acentuado. Esse declive terminava a uns trinta metros com uma profunda queda livre de uns vinte metros. Lá embaixo via-se um solo de barro. Percebi que aquela parte estabelecia a fronteira entre duas regiões. Mas ali embaixo exite a cidade Colina, que está basicamente próxima a parte mais material da Terra.
Em meio ao ambiente de penumbra, a Irmã Edileusa apontou os corredores de passagem para a parte inferior. Pareciam rampas de lama, mas que nos ofereciam caminho até uma rua estreita da cidade.
Na cidade existem casas e também prédios de três e quatro andares. Todos em aspecto antigo e extremamente mal cuidados.
Depois de caminharmos por algumas ruas, chegamos na frente de um prédio de três andares, onde na frente estavam as Irmãs Marta e Odete. O assoalho do prédio estava completamente sujo; como se nunca fosse varrido. Duas outras entidades estavam ali. Uma se apresentou como o zelador do prédio e pediu onde íamos. Nesse instante a Irmã Odete passou a conversar com o mesmo. Já a Irmã Edileusa conversou comigo:
-Irmão Charles. Agora você necessita voltar. Fique tranquilo com o Irmão Hugo. E acalme seu coração. Essas situações são assim mesmo. Exigem sempre nosso retrabalho. Peço que agora ore o Pai Nosso e retorne. Na Terra, seu despertador já está para tocar. Tão logo a atividade se conclua, te informaremos para lhe acalmar.
Acordei orando o Pai Nosso a poucos segundos do despertador tocar. Eram sete horas da manhã. Passei o dia pensando sobre a situação. E quando eram quase 16 horas, o Mentor Bartolomeu falou-me que Hugo já estava conversando com o Dr. Oberdam no Hospital de Cáritas. Que o resgate havia avançado. Graças a Deus!

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