Foi
numa das atividades, das muitas que são realizadas na
espiritualidade, que certa noite fui levado para o Hospital de
Cáritas. Estando lá, o Mentor Bartolomeu dirigiu-me até ao
consultório médico do Dr. Oberdam, psicólogo da espiritualidade.
Lá também estava do Dr. Rafael, médico pediatra.
-Olá
meu querido Irmão Charles! - Cumprimentou-nos o Dr. Oberdam – Seja
bem vindo. Que nosso Pai Amado ilumine seu coração. Meu querido
Irmão Bartolomeu! Que a luz de Amor, de nosso Pai se faça em nossos
corações.
O
Dr. Oberdam, amorosamente, dirigiu suas palavras para nós ali
presente e comentou que logo chegariam outros Irmãos e daria as
informações precisas sobre a atividade a desempenhar.
Por
sua vez, o Dr. Rafael também cumprimentou-nos no mesmo estilo do Dr.
Oberdam. Comentou ainda para aguardarmos os préstimos da Irmã
Edileusa, uma estudante de pediatria da espiritualidade e dedicada em
atividades de resgate, que nos acompanharia na tarefa.
Logo
entendi que o assunto se tratava de resgate de criança, tal como já
realizamos em outras oportunidades nas regiões umbralinas.
O
Mentor Bartolomeu fez uma comovente oração ao cumprimentar a todos
que estavam na sala. Sua oração, em poesia, fez a sala iluminar-se
em tom prateado.
Não
demorou nada e logo chegou na sala a Irmã Edileusa e mais três
outras Irmãs. Após os cumprimentos e apresentações o Dr. Oberdam
passou a explicar sobre a atividade:
-O
grupo está constituído na Sala. Hoje necessitamos nos dividir e
vamos encaminhar dois missionários para resgates em regiões
distintas. O Irmão Charles e a Irmã Edileusa irão até a praça da
cidade umbralina de Colina e as Irmãs Odete e Marta descerão até
as imediações da Terra, onde a cidade de Colina intermedeia os
umbrais terrenos da cidade de Caxias do Sul. Nossa tarefa é resgatar
o Irmãozinho Hugo, que já desencarnou a mais de três semanas, em
acidente que também vitimou sua avó. Alerto que existe uma ligação
muito forte entre o neto e a Irmã Miguelina, sua avó. Hugo
desencarnou com a idade de cinco anos e ainda mantém a consciência
de tal criança. Merece atenção. Assim, enquanto o Irmão Charles e
a Irmã Edileusa buscam o pequeno Hugo, peço que as Irmãs Odete e
Marta sigam ao encontro de Miguelina e travem um diálogo amoroso com
ela, para que no momento as ligações magnéticas se desfaçam e
permitam o deslocamento do Irmão Hugo. Peço a compreensão de vocês
diante da adversidade que encontrão. Ambos os espíritos ainda estão
muito imantados. Irmã Marta e Irmã Odete, nossa Irmã Miguelina não
está ainda preparada para ser resgatada, por isso, não tentem nada
nesse sentido, pois poderá provocar o agravamento de sua situação
psicológica. Ela não acredita na imortalidade da alma e não detém
esclarecimento mínimo sobre a Espiritualidade. Sendo que vocês
devem apenas conversar com ela sobre as necessidades diárias e sobre
suas idas ao Templo para orar. Conversem com ela sobre a Bíblia e
procurem ler algum capítulo abrindo a Bíblia ao acaso. Peçam para
a Miguelina escolher uma passagem bíblica e comentar sobre seu
entendimento. Durante esse momento, Irmão Charles e Irmã Edileusa
estarão resgatando o pequeno Hugo. Irmão Charles, tão logo consiga
a proximidade com o pequeno Hugo, pegue-o pela mão e traga-o para
cá. Irmã Edileusa, tão logo o pequeno Hugo segurar a mão do Irmão
Charles, faça o passe magnético sobre a cabeça e sobre o coração
do menino, mantendo esse passe até vocês chegarem aqui. Meus
queridos, nós vos aguardaremos aqui, em oração e vibração
permanente, eu, Irmão Bartolomeu e Irmão Rafael. Vão, e que o
Mestre Jesus ilumine a todos.
Ouvi
atentamente as instruções. As Irmãs Edileusa, Odete e Marta, com
sorriso aberto, chamaram pela proteção e amparo do Alto e
imediatamente saímos da Sala, que está localizada em um dos prédios
do Hospital de Cáritas na cidade Espiritual Horizonte de Luz.
Começamos
a descer, e logo nos separamos. Enquanto as Irmãs Odete e Marta
seguiram uma direção, eu e a Irmã Edileusa fomos noutra.
Descemos
por vielas que a cada momento contrastava com ambientes de crescente
penumbra. Até que chegamos na praça da cidade Colina. A
luminosidade do ambiente era semelhante ao vespertino; quando o Sol
já não aparece mais no horizonte. A praça era com piso de concreto
e os únicos brinquedos ali eram a gangorra o escorregador e um
emaranhado de grades semelhante a um labirinto, por onde as crianças
podiam entrar por alguns lados e escalar em outros.
Logo
a Irmã Edileusa apontou onde estava o pequeno Hugo. O menino estava
sentado ao lado desse gradil. Parecia cansado de tanto brincar.
Existiam outras crianças ali, assim como adolescentes. A única
pessoa adulta que estava ali, se aproximou de nós e falou:
-Olá
Irmãos! Tudo bem? Então, vieram para o resgate do Irmão Hugo?
Sem
eu saber de maiores detalhes sobre a situação, a Irmã Edileusa
esclareceu que a Irmã Zélia é uma protetora a acompanhar os
pequeninos. Edileusa explicou para a Irmã Zélia e pediu sobre o
emocional do pequeno Hugo, ao que ela comentou:
-No
momento nosso pequeno Hugo está muito confuso. Como não vê os
pais, busca saber pela avó e quando ela o levará até eles. Os pais
de Hugo, apesar da gravidade do acidente, continuaram encarnados. Mas
é a avó quem mantém uma forte imantação sobre o pequeno. Já
trabalhamos um bocado para se desfazer essa ligação. Espero que
hoje tenhamos exito de levar o nosso querido Hugo para o Hospital, a
fim de que receba o atendimento no seu emocional.
A
Irmã Zélia explicou ainda que, mesmo Hugo desencarnando como
criança, os laços magnéticos entre ele e a avó não podem ser
rompidos abruptamente. Assim como o livre-arbítrio de Hugo deve ser
respeitado. Como ele desejou ficar junto a avó, a Espiritualidade
definiu um meticuloso trabalho de resgate para o pequeno Hugo e de
esclarecimento para a avó Miguelina.
Zélia
nos conduziu para junto de Hugo e passou a falar-lhe que eu e
Edileusa trabalhávamos numa praça mais iluminada e com outros
brinquedos. Falou sobre uma escola que ele poderia conhecer e brincar
com outras crianças.
Durante
a conversa, fui a cada momento me aproximando de Hugo. Sentei ao lado
dele e entre um comentário e outro que ele fazia, sobre sua bola de
futebol, sobre sua mãe e seu pai, fui buscando a mão dele. Como
estava sentado na sua direita, logo peguei sua mão direita e
levantei-me, pedindo para ele também levantar. O que ele fez com a
minha ajuda, pois aproveitei para auxiliar a levantar e não larguei
mais a mão dele. Foi aí que a Irmã Edileusa iniciou o passe
magnético. Ela se posicionou atrás de Hugo. Interessante. Edileusa
se transfigurou naquele instante. De suas mãos saiam uma luz
esbranquiçada que atingiam a parte superior da cabeça e o coração
de Hugo. Também do coração de Edileusa saia uma luminosidade ainda
mais clara. Enquanto que em suas costas, a irradiação se fazia de
tal forma que mais pareciam com as assas de anjo.
O
passe magnético fez Hugo sorrir. E numa suave flutuação, de alguns
milímetros do chão, o pequeno Hugo desejou conhecer a escola e a
outra praça.
Pronto.
Estava dado o primeiro passo para o resgate. Os pensamentos de dor e
sofrimento, os sentimentos de perda e saudade, estavam sublimados. E
a lembrança das censuras da sua avó não se fizeram. Naquele
momento, durante o passe de Edileusa sobre o pequeno Hugo, minha
mente podia sentir e ouvir como se eu mesmo fosse o Hugo. Tudo o que
ele pensava eu ouvia. O pensamento do menino passou a ter eco em
minha própria consciência. E foi sentindo tal confiança que
passamos a caminhar em direção ao Hospital de Cáritas. E a cada
ambiente com maior claridade a que chegávamos, e lendo os
pensamentos do menino, passava a contar sobre o local e destacava
para ele sobre a alegria de brincar com outros brinquedos e amigos.
A
Irmã Edileusa ficou completamente translúcida. Quase invisível.
Ela nos acompanhava na subida, em direção a cidade Horizonte de
Luz, como um Anjo da Guarda, flutuando a um metro do chão e sempre
mantendo o passe magnético.
De
repente senti que Hugo passou a pensar na avó. Logo percebi que ele
tinha medo de ser xingado por ela. Sem que ele falasse qualquer
coisa, senti como em meu coração o pavor que quase tomou conta do
menino. Falei, então, do futebol que poderia praticar, para tentar
distraí-lo.
Logo
o pórtico de entrada do Hospital ficou à nossa frente e de imediato
falei:
-Olha
ali, Hugo. Chegamos!
Na
frente do Hospital, ali no pórtico, diversas crianças brincavam.
Interessante, pois toda vez que cheguei no pórtico de entrada do
Hospital de Cáritas, sempre vi crianças brincando. Agora eu entendi
o motivo.
Apontei
para o Hugo as crianças que brincavam com uma bola. Ele levou o dedo
na boca e ficou encabulado. Disse para ele que primeiro iriamos
conversar com um amigo e depois ele já poderia brincar.
Passamos
pelo pórtico e seguimos para o prédio onde está a Sala, conforme
as orientações. Hugo estava apreensivo. Olhava todo aquele ambiente
arborizado e as pessoas que estavam ali e começou a pensar em sua
avó. Procurei distraí-lo para evitar qualquer imantação
telepática.
Conseguimos
entrar no prédio e subimos pelo elevador até o andar do Dr.
Oberdam. Mas quando saímos do elevador, já no corredor e a poucos
metros da Sala, nosso destino, senti uma forte dor no peito e um
grito em minha consciência:
-Hugo!
Hugo!
Em
minha consciência a voz da Miguelina se fez como se eu estivesse na
frente dela. E logo em seguida o xingamento começou:
-Eu
disse pra não sair daqui... Agora vai ficar de castigo...
Além
da voz, também vi a imagem da avó de Hugo e pude ver ele sentadinho
num canto de uma cozinha quase escura; a chorar.
Essas
foram as imagens que vi. E elas ocorreram no exato momento em que
Hugo voltou para as regiões umbralinas. A imantação da avó se
refez assim como o receio de desobedecer acabou o imantando também à
sua avó.
Hugo
havia desaparecido, se podemos dizer assim, de minha mão, a poucos
metros da Sala.
A
Irmã Edileusa, sem abater-se, disse para eu ficar tranquilo com a
situação, e que deveríamos retornar para buscar o Irmão Hugo.
Na
porta da Sala apareceram o Dr. Oberdam e o Mentor Bartolomeu. Me
desculpei com eles pelo meu insucesso com o menino. Bartolomeu buscou
amenizar meu sentimento de derrota e orientou que eu seguisse junto
com a Irmã Edileusa para a casa da avó de Hugo, a fim de buscá-lo.
Disse, ainda, que as Irmãs Odete e Marta já haviam retornado para
conversar com a Irmã Miguelina, mas que aguardariam a nossa chegada.
Ao
lado da Irmã Edileusa, passamos a refazer o caminho até ao encontro
de Hugo. Confesso que um sentimento de perda preencheu meus
pensamentos.
Em
nossa descida, quando chegamos na praça de Colina, já as escuras e
sem mais ninguém, a Irmã Edileusa levou-me até uma escadaria
localizada na parte oeste da mesma. Descendo pela mesma, chegamos a
uma parte com um gramado alto e em declive acentuado. Esse declive
terminava a uns trinta metros com uma profunda queda livre de uns
vinte metros. Lá embaixo via-se um solo de barro. Percebi que aquela
parte estabelecia a fronteira entre duas regiões. Mas ali embaixo
exite a cidade Colina, que está basicamente próxima a parte mais
material da Terra.
Em
meio ao ambiente de penumbra, a Irmã Edileusa apontou os corredores
de passagem para a parte inferior. Pareciam rampas de lama, mas que
nos ofereciam caminho até uma rua estreita da cidade.
Na
cidade existem casas e também prédios de três e quatro andares.
Todos em aspecto antigo e extremamente mal cuidados.
Depois
de caminharmos por algumas ruas, chegamos na frente de um prédio de
três andares, onde na frente estavam as Irmãs Marta e Odete. O
assoalho do prédio estava completamente sujo; como se nunca fosse
varrido. Duas outras entidades estavam ali. Uma se apresentou como o
zelador do prédio e pediu onde íamos. Nesse instante a Irmã Odete
passou a conversar com o mesmo. Já a Irmã Edileusa conversou
comigo:
-Irmão
Charles. Agora você necessita voltar. Fique tranquilo com o Irmão
Hugo. E acalme seu coração. Essas situações são assim mesmo.
Exigem sempre nosso retrabalho. Peço que agora ore o Pai Nosso e
retorne. Na Terra, seu despertador já está para tocar. Tão logo a
atividade se conclua, te informaremos para lhe acalmar.
Acordei
orando o Pai Nosso a poucos segundos do despertador tocar. Eram sete
horas da manhã. Passei o dia pensando sobre a situação. E quando
eram quase 16 horas, o Mentor Bartolomeu falou-me que Hugo já estava
conversando com o Dr. Oberdam no Hospital de Cáritas. Que o resgate
havia avançado. Graças a Deus!
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