A guerra parecia estar longe. No
entanto, a gloriosa Alemanha sofria os duros golpes de sua
imprudência.
A glória não mais se via pelas
ruas da ruidosa capital das púrpuras pelo partido. Tudo agora era
pura destruição e completa desolação.
A saúde não mais me fazia gritar
ao Adolf Hitler e o chão que antes era todo coberto pelas marcas das
suásticas e das cores do nazismo, agora estão em completa
destruição, com estragos por toda a parte, buracos e detritos,
prédios calcinados e um cheiro forte de carniça e incêndio.
Há medo por toda a parte e a vida
se resume em encontrar forças para suportar os últimos dias
prenunciados pelos Aliados que atacam; que os dias de glória já se
fazem derrotados.
Ao ouvir as sirenes, todos devem
correm para os abrigos. No subsolo da cidade, Berlim guarda sua
população. Enquanto ali no fundo oramos ao Pai, lá no céu aviões
dos Aliados bombardeiam a cidade sem piedade.
O barulho das explosões fazem
nossos ouvidos sentirem o bumbar de surdos. A impressão das bombas
caindo é de que o ar nos bate com força em nossos peitos, dando a
sensação de forte pressão nos ouvidos.
Só depois de horas de calmaria é
que somos liberados para sair de nossos abrigos. Tão logo podemos
subir e a desolação abate ainda mais nossas esperanças.
O cenário é completamente
catastrófico e desolador. A cada bombardeio a cidade em ruínas é
revolvida em sua paisagem.
Ficar onde estamos é a única
alternativa. A vida perde sentido na medida que nos afastamos dos
abrigos.
O cheiro de fumaça aponta para um
céu negro e opaco. A luz não mais se enxerga como nos tempos
gloriosos. As narinas doem e os pulmões reclamam pela quantidade de
fumaça e fuligem que o contaminam.
A vida de cada morador vai aos
poucos se esvaindo diante da atmosfera venenosa.
Ao III Reich só restam lembranças
fabulosas do império que desejou construir. Ao combalido povo, só
resta a misericórdia do “inimigo”. E as notícias dizem que o
“inimigo” está longe e sob controle. Porém, os boatos desmentem
as notícias. Diversas pessoas contam que os Aliados a cada dia ficam
mais próximos da capital e não demorará para penetrarem em Berlim.
Nossa angústia era em saber quem
chegaria primeiro: ou os Soviéticos pelo lado oriental, ou os
Americanos pelo lado ocidental.
Em maio de 1945 o som efusivo das
bombas, o ruído das metralhadoras anunciou a chegada dos soviéticos.
Blindados pesados rufaram seus motores e suas esteiras abriam caminho
sobre as pilhas de destroços da cidade gloriosa.
Os estrondos anunciaram o veredito:
Berlim caíra diante dos Soviéticos.
Quando o barulho dos disparos deu
lugar para o som de carros e vozes, saímos de nossos abrigos.
Famintos, doentes, apavorados e
escoimados, ficamos diante de homens fortemente armados e
ameaçadores.
Foi um misto de alívio e de pavor.
Não sabíamos o que aconteceria. O duro combate trouxe para dentro
de Berlim jovens armados e cansados do combate sangrento.
Seríamos nós o troféu?
No entanto, passado os momentos
iniciais de pavor, logo as crianças receberam os primeiros cuidados.
A guerra que transformou os homens
em coisas abomináveis, também revelou o espírito humano em sua
essência: a de amar o próximo.
É, estávamos nós, combalidos e
prontos para o fuzilamento. Mas a água da paz foi estendida e depois
de dias sem poder molhar os lábios com água limpa, pudemos
revigorar nossas energias.
Em agosto tudo está consumado. E eu
desencarno poucos dias após estar recebendo os cuidados médicos.
Aos 80 anos fui testemunha de duas guerras e de duas concepções
políticas. Uma concepção de glória e triunfo, que conquistaria o
mundo, foi à 1ª Guerra Mundia, onde sucumbimos pela arrogância. A
outra, a fantasia exuberante que lançou a proposta fanática do
Império da superioridade e que esboroou-se diante da prepotência e
da vaidade egoística.
Diante das ruínas vaguei como
espírito e rememorei a felicidade daquelas ruas de outrora. Se tem
algo que a guerra ensina é que os cataclismos provocados pela
ambição e orgulho dos homens tem seu destino certo na derrota e na
morte.
Fritz Hartz Hans
Psicografado em 11 de março de
2013.
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