terça-feira, 12 de março de 2013

Berlim 1945


A guerra parecia estar longe. No entanto, a gloriosa Alemanha sofria os duros golpes de sua imprudência.
A glória não mais se via pelas ruas da ruidosa capital das púrpuras pelo partido. Tudo agora era pura destruição e completa desolação.
A saúde não mais me fazia gritar ao Adolf Hitler e o chão que antes era todo coberto pelas marcas das suásticas e das cores do nazismo, agora estão em completa destruição, com estragos por toda a parte, buracos e detritos, prédios calcinados e um cheiro forte de carniça e incêndio.
Há medo por toda a parte e a vida se resume em encontrar forças para suportar os últimos dias prenunciados pelos Aliados que atacam; que os dias de glória já se fazem derrotados.
Ao ouvir as sirenes, todos devem correm para os abrigos. No subsolo da cidade, Berlim guarda sua população. Enquanto ali no fundo oramos ao Pai, lá no céu aviões dos Aliados bombardeiam a cidade sem piedade.
O barulho das explosões fazem nossos ouvidos sentirem o bumbar de surdos. A impressão das bombas caindo é de que o ar nos bate com força em nossos peitos, dando a sensação de forte pressão nos ouvidos.
Só depois de horas de calmaria é que somos liberados para sair de nossos abrigos. Tão logo podemos subir e a desolação abate ainda mais nossas esperanças.
O cenário é completamente catastrófico e desolador. A cada bombardeio a cidade em ruínas é revolvida em sua paisagem.
Ficar onde estamos é a única alternativa. A vida perde sentido na medida que nos afastamos dos abrigos.
O cheiro de fumaça aponta para um céu negro e opaco. A luz não mais se enxerga como nos tempos gloriosos. As narinas doem e os pulmões reclamam pela quantidade de fumaça e fuligem que o contaminam.
A vida de cada morador vai aos poucos se esvaindo diante da atmosfera venenosa.
Ao III Reich só restam lembranças fabulosas do império que desejou construir. Ao combalido povo, só resta a misericórdia do “inimigo”. E as notícias dizem que o “inimigo” está longe e sob controle. Porém, os boatos desmentem as notícias. Diversas pessoas contam que os Aliados a cada dia ficam mais próximos da capital e não demorará para penetrarem em Berlim.
Nossa angústia era em saber quem chegaria primeiro: ou os Soviéticos pelo lado oriental, ou os Americanos pelo lado ocidental.
Em maio de 1945 o som efusivo das bombas, o ruído das metralhadoras anunciou a chegada dos soviéticos. Blindados pesados rufaram seus motores e suas esteiras abriam caminho sobre as pilhas de destroços da cidade gloriosa.
Os estrondos anunciaram o veredito: Berlim caíra diante dos Soviéticos.
Quando o barulho dos disparos deu lugar para o som de carros e vozes, saímos de nossos abrigos.
Famintos, doentes, apavorados e escoimados, ficamos diante de homens fortemente armados e ameaçadores.
Foi um misto de alívio e de pavor. Não sabíamos o que aconteceria. O duro combate trouxe para dentro de Berlim jovens armados e cansados do combate sangrento.
Seríamos nós o troféu?
No entanto, passado os momentos iniciais de pavor, logo as crianças receberam os primeiros cuidados.
A guerra que transformou os homens em coisas abomináveis, também revelou o espírito humano em sua essência: a de amar o próximo.
É, estávamos nós, combalidos e prontos para o fuzilamento. Mas a água da paz foi estendida e depois de dias sem poder molhar os lábios com água limpa, pudemos revigorar nossas energias.
Em agosto tudo está consumado. E eu desencarno poucos dias após estar recebendo os cuidados médicos. Aos 80 anos fui testemunha de duas guerras e de duas concepções políticas. Uma concepção de glória e triunfo, que conquistaria o mundo, foi à 1ª Guerra Mundia, onde sucumbimos pela arrogância. A outra, a fantasia exuberante que lançou a proposta fanática do Império da superioridade e que esboroou-se diante da prepotência e da vaidade egoística.
Diante das ruínas vaguei como espírito e rememorei a felicidade daquelas ruas de outrora. Se tem algo que a guerra ensina é que os cataclismos provocados pela ambição e orgulho dos homens tem seu destino certo na derrota e na morte.
Fritz Hartz Hans
Psicografado em 11 de março de 2013.

Nenhum comentário:

Postar um comentário