terça-feira, 19 de abril de 2011

Visitando um Terreiro da Quimbanda – Parte II

O chefe do terreiro, então, ergueu a mão esquerda e pediu que parassem de tocar e cantar. Ele começou a conversar sobre amenidades de outros trabalhos que desenvolveram no terreiro. Entre falas que pareciam forçadas, pelo tom da voz rouca e um sorriso contido, pedia para as entidades sobre os desfechos realizados diante dos pagamentos dos trabalhos.
Os médiuns incorporados por Irmãozinhos Menores respiravam fundo e vez por outra produziam roncos e rosnado. Cada um respondeu ao seu tempo, seguido de algum riso.
O chefe, sempre em tom de seriedade, elogiava cada um que respondia.
Em seguida esse mesmo chefe do terreiro solicitou o início dos trabalhos de “limpeza”. Pediu para um dos auxiliares, que não estava incorporado, que conduzisse as pessoas para dentro do terreiro. Entraram cinco pessoas que foram colocadas no centro do grupo dos médiuns. Ao som dos instrumentos e de canto específico, os médiuns começaram a dançar em volta das pessoas que ficaram postadas de pé. Cada entidade passava sua capa sobre cada uma das pessoas.
Bartolomeu explicou sobre a situação:
-Está ocorrendo, nesse momento, o que na Casa Espírita é o passe magnético. Aqui nossos Irmãozinhos tocam com suas capas no corpo dos encarnados com o propósito de tirar-lhes os fluidos pesados e negativos. Esse procedimento ritualístico se faz necessário para eles, pois assim sua atividade é realizada com êxito. Por ainda estarem em um estágio evolutivo que desconhecem outras maneiras de trabalhar o magnetismo apenas pelo pensamento, esses Irmãozinhos recolhem com suas próprias mãos os fluidos negativos dos encarnados. Para você entender. É como quando você passa a mão sobre uma superfície molhada, com o objetivo de tirar a água. Grosso modo, um Espírito que detenha maiores conhecimentos, ao invés de passar a mão na superfície para tirar a água, utilizaria de outro artifício para realizar o mesmo procedimento. Utilizaria um secador com ar quente ou aqueceria a superfície, evitando o contato. Mas isso é apenas visando o seu entendimento. Repare que no caso desses Irmãozinhos, eles passam suas capas sobre o corpo dos encarnados, e acabam absorvendo para si os fluidos negativos. Eles aliviam os encarnados, mas ficam contaminados pelos fluidos que recolheram. É certo que antes de terminarem os trabalhos aqui, todos os médiuns e os Irmãozinhos que incorporaram, farão uma limpeza espiritual. Mas ainda assim sairão levando miasmas negativos.
-Mas então quer dizer que as pessoas são beneficiadas por esses Irmãozinhos?
-Em certa medida sim. Porém não podes confundir. Aqui os trabalhos têm um fim específico. Geralmente relacionados às questões da matéria. Sendo assim, a melhora dos encarnados se dá de forma passageira, visto que seus pensamentos estão focados em desejos materiais e isso os imantará novamente à fluidos densos e miasmas que lhe trarão mal estar para a Alma. Em decorrência disso, esses Irmãozinhos, desencarnados e encarnados, se envolverão em redes de resgates cármicos coletivos. Observe que o Irmãozinho que se julga líder do grupo estabelece uma disciplina coletiva. Isso, em algum momento futuro será modificado, possibilitando em encarnações vindouras que esses Irmãos desenvolvam o seu próprio livre-arbítrio. Para que compreendas; o líder aqui do terreiro, teve sua última encarnação, de forma compulsória, na Espanha do século XVIII. Na oportunidade ele conduziu sua encarnação de forma tortuosa e acabou sendo aprisionado ainda jovem, vindo a desencarnar em decorrência do tipo de tratamento dado aos prisioneiros. Desde então, ele vagou pelas regiões umbralinas até receber a oportunidade de se manifestar nesse terreiro.
Notei que as capas, conforme o aumento dos trabalhos, pareciam estar molhadas. De fato, conforme a explicação do mentor Bartolomeu, os fluidos densos dos encarnados iam “encharcando” as mesmas.
Terminado os trabalhos de limpeza, que se realizou sobre um total de oito encarnados, iniciaram-se, então, os trabalhos com os animais.
Primeiro foi chamado o casal de idosos que trouxeram um galo. Entraram no terreiro e se sentaram em duas cadeiras próximas da parede. O idoso entregou a sacola com o galo e puxou do bolso uma quantia em dinheiro, entregando-os ao auxiliar.
Pelo que entendi da conversa do idoso com o chefe do terreiro, o destino do galo era servir em sacrifício para o idoso ter auxílio em um dado processo envolvendo embaraço patrimonial.
Poupo o leitor dos procedimentos ritualísticos envolvendo o sacrifício do animal. Mas duas situações chamaram minha atenção. Primeiramente, no momento do sacrifício do galo, reparei que duas entidades pequenas entraram e se aproximaram do animal. Em seguida, quando foi desferido o golpe mortal no animal, as duas entidades pegaram a luz que se desprendeu do corpo do animal e saíram rapidamente do recinto.
Bartolomeu percedeu minha dúvida quanto ao ocorrido e explicou que aquelas duas entidades pequeninas eram os Espíritos cuidadores dos animais. Os mesmos estavam do lado de fora do terreiro aguardando o momento para resgatar o Espírito no estágio de animal.
A segunda situação que chamou minha atenção foram as figuras horripilantes que surgiram no centro do terreiro, saindo do chão; como se abrisse uma cova. Demonstrando imensa fome, se lançaram sobre o recipiente onde fora depositado o corpo do animal. Essas entidades pareciam aspirar aos fluidos vitais do animal sacrificado.
O líder do terreiro, vendo aquelas entidades que os encarnados não viam, disse para aguardarem um pouco enquanto os “seus” se alimentavam do “ebó”,
Depois de uns quinze minutos, o lider solicitou a saída do casal de idosos.
Iniciaram-se, então, os mesmos preparativos para o bode que estava do lado de fora. Os mesmos procedimentos ritualísticos foram desenvolvidos para o sacrifício do animal e as mesmas duas entidades entraram para resgatar o Espírito em estágio de animalidade que se desprendera do bode.
No caso do sacrifício do bode, o encarnado desejava ascensão na carreira profissional, “tirando” de seu caminho as pessoas que o “obscureciam” diante dos superiores na empresa onde trabalhava.
Bartolomeu procurou esclarecer sobre os acontecimentos.
-Esses Irmãozinhos, encarnados e desencarnados, são ainda ignorantes quanto aos desígnios divinos. Faltam-lhes esclarecimentos maiores sobre os procedimentos do bem. Dessa forma, agem na ignorância e na cegueira, propiciando o mal e assumindo resgates cármicos coletivos, com oportunos momentos dolorosos. Segue que são como crianças merecedoras de atenção da Espiritualidade Superior. Hoje eles estão aqui, nessas condições. No futuro, quando atingirem novo grau evolutivo quanto aos conhecimentos da Espiritualidade, certamente estarão louvando a vida, o perdão e a proteção dos animais e da natureza. Agora vamos nos retirar, pois temos outra atividade.

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