segunda-feira, 26 de março de 2018

Partindo do hospital


Foram vinte meses num leito de hospital. Vinte meses de sofrimento não para mim, pois já não sentia a dor que me corroeu os ossos, mas para meus familiares que seguidamente tinham que se deslocar e contar com a esperança de que as coisas seriam revertidas.
Mas o destino já estava marcado. E o fim das dores e sofrimentos dos meus familiares também. Eu já estava desligando vagarosamente do meu corpo. E a sensação de ter de deixar a vida e o convívio dos meus era o que me deixava um pouco incomodada.
Confesso que o incomodo era algo um tanto confuso. Confuso pelo fato de estar vivendo dois mundos. O mundo material onde ouvia e sentia o sofrimento dos familiares; e o mundo espiritual, onde contava com a presença dos amigos e irmãos que em outra oportunidade já haviam desencarnados.
Seguidamente eles entravam em meu quarto no hospital e falavam comigo. E diziam seguidamente; só mais um pouquinho.
– Aguente só mais um pouquinho.
Falei que queria ir logo ou mesmo nem ir; queria que tudo se resolvesse com brevidade. Mas diziam que para algumas situações de aprendizado, era necessário um experimento maior para que o adiantamento da encarnação tivesse uma verdadeira utilidade.
Mas vendo os familiares terrenos em se achegando de mim: Me dizendo palavras de fé e de esperança: dizendo que eu sairia dali e logo voltaria para casa, me deixavam um pouco confusa.
Isso, pelo fato dos médicos terem dito junto ao meu leito que meu tempo já estava marcado: não teria muito tempo e logo teria uma falência múltipla dos órgãos.
E do lato espiritual também já tinham dito que logo mais eu estaria do lado deles.
Era isso que me confundia um pouco.
E aproveitava as noites para conversar com meus amigos que me visitaram no hospital. Eram eles que me informaram do tempo. E em determinada noite eles me levaram para um lugar diferente.
Lembro perfeitamente como foi. Era noite e vi quando eles chegaram em meu quarto. E junto deles estava a minha vozinha Marta, era a primeira vez que minha vó vinha me visitar. Vi no relógio da parede que marcava 1:30.
Foi nessa hora que sai com eles todos: meus amigos e minha vó. Ela disse que eu iria para outro prédio. E isso até me causou um pouco de desconforto, pois os outros familiares teriam de saber.  Mas como se ela já soubesse dos meus pensamentos, disse que já estava tudo acertado e com todos.
Começamos a andar pelo corredor que dava saída do hospital e o que vi é de deixar emocionada a minha Alma. Via na porta um grupo de médicos e enfermeiros, todos de branco, e ao lado deles uma pequena maca; minha lembrança daquele instante ainda me faz pausar. Mas foi naquela maca que minha vó Marta pediu para me deitar. E, nossa!
Senti uma leveza incrível, um sentimento de paz. Deitada ali, o médico que me atendeu o Dr. Nicanor, disse para ficar tranquila, que logo seria tratada e tudo melhoraria para mim e para meus familiares. Pediu para eu repousar as mãos sobre o peito, sobre o coração e...
Bom! Depois disso eu dormi.
Acordei num lugar diferente.
Também era um hospital, mas tudo com muita luz e muito mais arejado. As paredes que davam para um imenso jardim eram todos de vidro. E dali podia ver arvores, flores, campos. E notei que o quarto em que eu estava era de um dos andares mais altos do hospital.
Mas tudo ficou mais fácil de entender. Logo fui atendida pela enfermeira Bruna, que com muito carinho passou a explicar a minha situação, bem como onde eu me encontrava. Disse que logo meus familiares chegariam, que só me aguardavam acordar para me visitar. Pensei nos familiares da terra. Mas logo vi a vó Marta e junto dela o vô Antônio.
E claro que não aguentei, e chorei de alegria por ver eles ali.
Mas as surpresas não pararam por ali.
Tive uma grande amiga que desencarnou algum tempo antes de mim. E a minha amiga Rose também veio me dar as boas-vindas.
Tudo se confirmava conforme o que aprendi na Terra sobre o Espiritismo e a Espiritualidade. O acolhimento que ocorre aos que desencarnam e para onde vamos quando chega a hora, bem como quem nos acompanha. É muito trabalho invisível!
Mas foi fantástico o passo a passo que dei no desencarne. E foi muito gratificante compreender que a fraternidade e o amor são eternos mesmo naqueles que não estabeleceram laços consanguíneos em Terra.
A vida é uma sucessão de encontros e desencontros. É um processo onde os mistérios são vagarosamente desvelados. E o Amor infinito vai ganhando maior dimensão.
De hoje ao infinito!
Com Amor e Beijos!
Cátia
Psicografado em 20 de janeiro de 2018.

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